SCA - Viva a mudança
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PRÓXIMO DESTINO: MUDAR PARA MELHOR
AS VIAGENS
DENTRO DA VIAGEM
Uma viagem começa muito antes da partida ou de se chegar ao destino. O planejamento, a organização de todos os detalhes e principalmente a expectativa pelo que virá ativam os sentidos, avivam as percepções. Já "estamos" no local sem sequer ter saído de casa.
Parte da delícia de viajar é justamente este estado de alerta, que não é o alerta diante um perigo, mas aquele que promete a novidade, o não experimentado. Mas como em todo estado de alerta, chega uma hora em que o organismo e a cabeça cansam. É por isso que o retorno implica duas percepções muito interessantes. Um: voltamos sempre diferentes de uma viagem. Dois: essa volta provoca muito prazer. Se ir é bom, estar em casa novamente é melhor ainda.
Por que voltamos diferentes de uma viagem?
Uma simples troca de rotina, como ir do campo para a cidade ou da cidade para o campo, já dá mostras do que uma viagem pode fazer em cada um de nós. Se saímos da cidade e vamos para o campo, percebemos que a vida pode ser vivida com menos estresse. Se vamos para uma cidade grande, nos damos conta de que há muito mais possibilidades de estar no mundo, diferentes formas de se vestir, de se comunicar, de comer, morar.
"Quando saímos da rotina, do familiar, do conhecido,
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conseguimos prestar atenção em aspectos da vida aos quais usualmente não nos atemos", explica Angelita Corrêa Scardua, mestre em Psicologia Social, especialista em Psicologia Junguiana e pós-graduada em Neurociências e Comportamento.
Agora, pense em uma viagem maior: um destino em outro país, em outra cultura, além-mar. Os efeitos se ampliam. Verdades absolutas não conseguem se sustentar quando vamos para o lado de lá de uma fronteira ou do oceano. Conceitos sobre a beleza, a alegria, o certo, o errado... tudo isso pode cair por terra. Não demora muito e a percepção sobre nós mesmos vai mudando.
Toda viagem é aventura, mesmo que seja para uma pacata estação de águas termais. A explicação é o estado de espírito, sim, mas também o químico! Corpo e mente se transformam. Emoções e perspectivas não rotineiras fazem disparar a adrenalina, mantendo-nos num estado de alerta, que torna a assimilação das experiências mais intensas.
Há quem viaje tentando evitar qualquer imprevisto, mas são justamente eles que acabarão diferenciando as aventuras. Através dos imprevistos colocamos em prática nossa capacidade de adaptação. No final da aventura, trazemos para casa o gostinho bom dessa superação pessoal.
Além disso, não só o cenário do destino é desconhecido, as pessoas também. O inverso é verdadeiro: parte de nossa identidade se perde na medida em que no destino ninguém nos conhece. É aí que, decorrido algum tempo, que varia de pessoa para pessoa, a multiplicidade de estímulos e o estado de fascinação abrandam. "O caminho da multiplicidade é um caminho sem descanso. Cada ponto de chegada é um ponto de partida. Cada encontro é uma despedida",
escreveu Rubem Alves em Concerto para Corpo e Alma. Nessa hora, a saudade começa a bater. E passamos a entender porque...
... voltar é tão bom!
Essencialmente, voltar é bom porque significa matar a saudade. Não apenas a sentimos, mas podemos atendê-la! Com o cérebro lotado de novas informações, é complicado manter indefinidamente o estado de alerta e de expectativa de uma novidade a cada esquina. Queremos sossego. E viajar nos revela outro ganho: se o agito proporcionado pelo desconhecido é bom, a tranquilidade que é fruto do que já se conhece tem valor também. Rubem Alves escreveu: "Já observaram o voo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só".
Se na ida os sentidos ficaram aguçados, a volta reserva uma certa dose de sensibilidade também: olhamos diferente para a cidade, as ruas, a nossa casa. Sentimos até seu cheiro.
Nosso lugar no mundo é aquele que escolhemos para morar, fixar raízes – em geral, um local que reflete nossa história pessoal, nossos valores, nossas crenças. É fácil perceber a importância dessa sensação de pertencimento se lembrarmos como é comum as pessoas procurarem referências da terra natal, como um restaurante típico ou contato com conterrâneos, quando estão vivendo em outro país.
"O retorno ao lar depois de uma viagem confere essa sensação de porto seguro. O desejo de retornar para casa após uma viagem, portanto, é o desejo de reencontrar abrigo para a pessoa que acreditamos ser, e isso é sempre muito bom!", conclui a psicóloga.