Casa Pavilhão
Projeto tem implantação discreta e vista privilegiada.
O escritório paulistano UNA Arquitetos - criado em 1995 por Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara e Fernando Viégas, arquitetos graduados entre 1993 e 1994 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde também cursaram o mestrado -, tem um currículo de quase uma centena de projetos. São edifícios residenciais, institucionais, industriais, educacionais, de transportes e de urbanismo projetados tanto no Brasil quanto no exterior, quase todos executados e muitos deles premiados em concursos nacionais e internacionais.
Um dos trabalhos de destaque do escritório é a residência-pavilhão projetada em 2005 e concluída em 2008, no município de Joanópolis, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, no final da Serra da Mantiqueira, a mil metros de altitude. O local, no século 19, era usado por bandeirantes e tropeiros como passagem entre os dois estados. A casa foi projetada para amigos dos arquitetos que frequentavam o Pavilhão Carambó, um marco na paisagem do lugar, situado a cerca de dois quilômetros de distância e projetado pelo escritório em 2002. A nova casa ocupa um terreno de 4.385,25 m², em um condomínio da área rural do município, nas margens da represa de Piracaia, que integra o sistema de abastecimento da capital.
O declive acentuado do terreno foi determinante para o projeto. Os arquitetos procuraram ajustar a casa ao local, protegendo-a das construções vizinhas e, ao mesmo tempo, tirando partido da topografia acidentada para revelar suas virtudes.
Na contramão dos demais imóveis do condomínio, ostensivamente grandes e suntuosos, o volume da casa se desenvolve horizontalmente, discreto e singular, quase se fundindo ao solo graças à sua implantação compacta. A área foi dividida em três platôs, com equilíbrio dos volumes de terra para aterros. Muros de arrimo seguram esses platôs, construídos, segundo técnicas locais, com pedras recolhidas do próprio terreno. Os muros originam um desenho de linha contínua, que se dobra para auto-sustentação, em um movimento que distende e retrai os espaços internos, formando três pátios ligados aos programas da casa: dormitórios, estar e serviços.
O primeiro platô, em cota intermediária entre a rua e a casa, ficou destinado à recepção e ao estacionamento de veículos. Da rua, vê-se apenas a torre branca (que abriga a infra-estrutura – cozinha, fornos, chaminés, caixa d´água, aquecedores) e a faixa horizontal de 8 metros por 40 metros, da cobertura ajardinada da casa. Esse jardim suspenso garante a eficiência térmica na casa, situada em uma região que se caracteriza pela grande diferença entre as temperaturas diurnas e noturnas. Ainda desse primeiro platô, tanto se tem acesso ao teto-jardim, quanto se pode descer e passar sob um pequeno túnel, que serve de portal de entrada ao pátio criado pelo muro de pedra, contíguo à sala de estar.
A casa estende-se pelo segundo platô, gramado e nivelado com a piscina de concreto e o solário, localizados na extremidade. As águas da piscina estabelecem continuidade visual com a represa, ao longe. Como um anexo, piscina e solário abrigam, na sua parte inferior, salão de jogos, depósito e casa de máquinas, que se abre para o terceiro platô, com pomar e árvores de reflorestamento.
A idéia dos proprietários era de uma casa em festa, sempre com muitas pessoas em atividades simultâneas, e o resultado foi uma casa/pavilhão prática, cômoda e espaçosa, com 433,79 m² de área construída. O cubo branco atravessa o teto e pode ser visto desde muito longe. No interior da casa, ele aparece nos espaços de convívio, dividindo os ambientes de estar e de jantar. Além de encerrar a cozinha, dele se desprendem o forno para pizza e a churrasqueira.
De dia, as grandes portas de correr envidraçadas abrem-se completamente, transformando o local em uma ampla varanda; de noite, fecham-se, mas a transparência é mantida. As portas de correr de vidro ficam recuadas dois metros da fachada predominantemente norte, que coincide com as vistas distantes, e a face sul, abre-se para os pátios protegidos pelos muros de pedra. As quatro suítes seqüenciais receberam, além das vidraças corrediças, painéis móveis de madeira para escurecer os ambientes. A estrutura da casa foi erguida em concreto armado e, apesar do seu comprimento – 8 metros por 40 metros -, é toda modulada em vãos de quatro metros. O piso recebeu cimento queimado e o teto, concreto aparente. De acordo com os arquitetos, todos os detalhamentos e especificações tiveram como premissa a redução de custos.
Além de árvores frutíferas, com frutas como jabuticaba, pitanga, laranja, limão, romã, acerola e amora, plantadas próximas da casa, o terreno recebeu o plantio de árvores para recomposição da mata ciliar, como peroba-rosa, jequitibá, embaúba, aroeira, tarumã, acácia, grumixaba, carobás, jacarandás e ipês.
Fonte: (Éride Moura, colaboração para o UOL)