Décor sustentável
O uso da madeira na decoração é uma prática sustentável que faz bem para o planeta, ainda que ela não seja de demolição. Parece um paradoxo, mas não é. Quem garante é o engenheiro civil Marcelo Pante, um dos sócios da empresa Oficina do Espaço. “Uma árvore cresce através da captura de CO2 (dióxido de carbono) do ar. A madeira nada mais é do que a transformação do CO2, através da fotossíntese, em matéria orgânica. Desta forma, quanto mais árvores são plantadas, mais capturamos CO2 da atmosfera. Este, aliás, é o princípio das compensações de emissões de CO2 que se praticam atualmente em larga escala pelo planeta”, explica o engenheiro.
De acordo com ele, esta molécula de CO2 que foi emitida por uma indústria e que foi capturada por uma árvore, convertida em madeira, fica "sequestrada" em seu caule por toda a sua vida. “Se esta árvore morrer naturalmente, seu tronco vai cair, apodrecer e neste processo a molécula de CO2 será novamente liberada para o ambiente, como toda madeira que apodrece naturalmente. Se esta madeira for queimada, esta mesma molécula será novamente liberada para a atmosfera na forma de gás (dióxido ou monóxido de carbono)”, acrescenta.
Entretanto, quando esta madeira é incorporada a um móvel, piso ou revestimento, por exemplo, enquanto a peça for utilizada aquela molécula de CO2 continuará “aprisionada”, evitando seu acúmulo na atmosfera. Quanto mais madeira for incorporada ao ambiente doméstico e por mais tempo, mais sustentável será a habitação. “Não estamos falando da utilização de madeira nos processos de construção, quando ela é utilizada e descartada rapidamente. Esta é uma posição defendida, inclusive, pelo Conselho Brasileiro da Construção Sustentável”, diz o diretor da Oficina do Espaço.
Os benefícios ao meio ambiente são ainda mais importantes quando se utiliza madeira de demolição, uma tendência moderna na decoração. Estas madeiras, muitas vezes, foram cortadas e beneficiadas há mais de 50 anos. “Ao invés de seu descarte nos dias de hoje, ocasionando seu apodrecimento ou queima, estamos adiando a liberação de CO2 no ambiente por mais algum tempo. Incorporadas ao projeto de decoração, as peças têm potencial para permanecer ‘sequestrando’ moléculas de carbono por mais 20 anos, ou enquanto houver o seu uso na decoração do ambiente”, afirma Marcelo.
Com uma textura bem evidente, essa madeira recebe destaque em qualquer cômodo da casa, contrastando com suas cores e superfícies irregulares, sendo responsável por dar um toque rústico e requintado ao ambiente. Além da responsabilidade ecológica em reaproveitar um material que até então seria descartado, o uso das madeiras de demolição traz o benefício de se ter uma peça exclusiva em casa, já que as alterações causadas pelo tempo, como marcas de pregos e riscos, proporcionam características únicas a essa matéria-prima.
Um bom exemplo de uma peça criativa que adota esta estratégia é o projeto criado pela Oficina do Espaço para um quarto de casal. “No lugar da cabeceira da cama, criamos uma parede revestida até o teto com tábuas de madeira peroba, de demolição, compondo um visual muito interessante com a cama e o restante da decoração do quarto. É uma peça com efeito rústico, muito apreciado hoje em dia, e ao mesmo tempo aconchegante e original”, acrescenta o engenheiro.