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As curvas que ele fez para nós

"O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que está no encontro sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curva é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein"

Um dos maiores pilares da história da arquitetura, Oscar Niemeyer  morreu ontem no Rio, às 21h55. Internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul da capital fluminense, o carioca não resistiu à insuficiência respiratória.

Foi graças ao compasso deste genial artista que o Brasil conquistou um lugar ao sol na arquitetura contemporânea. Ícones populares e acadêmicos, suas obras espetaculares, marcadas pela leveza das curvas e pela originalidade do concreto armado, atravessaram as fronteiras e estão presentes  nos Estados Unidos, França, Alemanha, Argélia, Itália e Israel, entre outros países. 

Niemeyer matriculou-se na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1929, aos 22 anos. Obteve o diploma de engenheiro-arquiteto em 1934. Dois anos depois já trabalhava no escritório de Lúcio Costa, integrando a equipe que projetou o prédio do Ministério da Educação, um marco da arquitetura brasileira. Através de Lúcio Costa, conheceu o designer franco-suíço Le Corbusier, que foi uma influência definitiva na sua vida e com quem teria oportunidade de colaborar. Também com Costa, viajou para Nova York em 1939 para projetar o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial que acontecia naquela cidade.

O ano seguinte reuniu Niemeyer ao político Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, que o convidou para projetar o Conjunto da Pampulha - uma de suas realizações favoritas.

JK assumiu a Presidência da República em 1º. de janeiro de 1956. Entre outros projetos, pretendia construir uma nova capital no Planalto Central e encarregou Niemeyer de organizar o concurso para a escolha do plano-piloto de Brasília, vencido por Lúcio Costa.

Em poucos meses, o arquiteto projetou o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, a Catedral, os prédios dos Ministérios, além de edifícios residenciais e comerciais da nova capital, inaugurada em 21 de abril de 1960, embora as festividades tivessem começado na véspera.

Durante seus inacreditáveis 104 anos de vida (mais de oitenta deles na ativa), Oscar realizou diversas outras obras singulares como o Edifício Copan, o conjunto do Parque, o Memorial da América Latina e o Museu de Niterói.

Em inúmeras ocasiões, abriu mão de receber honorários, por princípios éticos. Apesar de sua produção monumental, sempre levou uma vida comedida e trabalhou até o fim de seus dias. Jamais deixou de ter posições políticas claras. Militante convicto do Partido Comunista, só nos últimos tempos abandonou a posição partidária, sem que isso atenuasse seu protesto contra a desigualdade social existente no mundo.

Casou-se com Annita Baldo, em 1928, com quem teve somente uma filha, Anna Maria, falecida em 2012. Niemeyer deixa cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos.