Astro dos mais superlativos de Hollywood, Brad Pitt não sai de cena. Depois de brincar com o compasso do legendário Frank Gehry, se declarar um “arquiteto frustrado” e carregar tijolos para a construção de casas populares da New Orleans pós-furacão, o sujeito aterrissa no red carpet do clube do design com uma dúzia de móveis para a americana Pollaro Inc.
É mais fácil entrevistar um vampiro do que conseguir conversar com Brad Pitt. Boa praça, bom ator, bem casado, bom pai, bom samaritano, boa-pinta e muito bem protegido da imprensa, o überstar que foge dos paparazzi tal e qual o demo foge da cruz, não cabe apenas no papel de uma das estrelas mais disputadas da calçada da fama. Aos 49 anos, com as veias sagitarianas pulsando inquietas, sempre que está à toa no set o cara rabisca um predinho ou coisa que o valha. Fora dele, também arregaça as mangas para extravasar o sonho de ser arquiteto que deixou para trás. E faz por merecer sua comenda de Embaixador da Boa Vontade da ONU: vira e mexe cai na rede uma foto do mocinho em ação na vida real, para inflação das mais de 115 milhões de ocorrências envolvendo o seu nome no Google.
Após a passagem do Katrina, furacão que devastou a “blueseira” New Orleans em 2005 e expôs as fraturas sociais dos EUA, o divo potencializou sua já estratosférica popularidade ao liderar ações solidárias por meio da ONG Make it Right, que reassentou 150 famílias em casas com tecnologia verde. Pouco antes, passou pelo escritório do seu ídolo e amigo, o arquiteto canadense Frank Gehry, com quem estagiou por mera diversão. Reza um desses mitos hollywoodianos que Angelina Jolie, deusa que só Brad pode chamar de sua, encomendou um croqui ao papa do desconstrutivismo para tatuar no dorso em homenagem ao maridão. Outros gossips dos tabloides dão conta de que Pitt torce para que um de seus seis herdeiros – metade biológicos, metade adotivos – pendure um diploma da Cornell Architecture University na parede.
Mexericos à parte, o que se sabe de concreto é que o cara realmente leva a coisa a sério. Os 12 móveis da coleção Pitt-Pollaro, assinados por ele e produzidos pela tradicional marca americana que acaba de completar 25 anos de bons serviços prestados à comunidade do décor, levaram nada menos que 5 longos invernos para ficar prontos. A história começou em 2008, quando Pitt encomendou uma mesa customizada para seu château no sul da França. Frank Pollaro, presidente da marca que leva seu nome, foi entregar a peça pessoalmente e deu de cara com o cliente ilustre empunhando uma lupa para examinar o atarracho de cada parafuso.
Brad não só aprovou o trabalho como apresentou ao empresário, timidamente, um caderninho de esboços com zilhões de croquis – sim, o protagonista de Clube da Luta rabiscava cadeiras e que tais nas horas vagas. Mais do que uma grande amizade, nascia ali um negócio bastante rentável. Em tiragem limitada, numerada, assinada e caríssima – o conjunto está avaliado em 3 milhões de dólares –, a primeira dúzia da empreitada traz cama, mesas de jantar e laterais, poltronas, estantes e uma banheira de pedra. O shape é portentoso, algo imponente, às vezes extravagante, com inspirações neoclássicas e pegada aerodinâmica.
As matérias-primas escaladas pelo ator três vezes indicado ao Oscar são tão antagônicas quanto metidas a besta: do melhor mármore Carrara ao mais black ébano de Macassar, passando por galuchats e incrustações de diamantes. Um ou outro item, como a poltrona de poliuretano, têm look mais modernex e apontam o flerte do duo com a tecnologia do plástico injetado.
Os protótipos foram aprovados – ou não – pelo ator, um a um. Ele gongou boa parte dessas peças até que elas fossem executadas à perfeição. “O processo de desenvolvimento da coleção Pitt-Pollaro foi exaustivo. Brad insistia em ser intimamente envolvido em cada etapa”, diz Frank Pollaro, exímio artesão que conquistou Pitt pela qualidade de seus acabamentos. Ou seja: mais um campeão de bilheteria na indústria do design-celebridade, como já aconteceu com o rocker Lenny Kravitz para a Kartell ou com o rapper Pharell Williams para a galeria Perrotin, numa escala bem menos expressiva, evidentemente.
Para alento dos “pittitietes” mais abonados (e bota abono nisso) que não conseguiram tascar uma senha na longa fila de espera, KAZA revela um segredo: uma sequência do curioso caso do ator que desenha móveis já está sendo rodada, como acontece com todo e qualquer blockbuster dos EUA – seja ele digno do Oscar ou da micada Framboesa de ouro.
Babel
por Flávio Nogueira
No final de agosto de 2005, Nova Orleans, terra do jazz e do blues ao sul dos Estados Unidos, foi devastada por um ciclone do tipo 5, o mais violento da categoria, com ventos que beiram 260 km/h. A passagem do Katrina provocou a morte de quase 2 mil pessoas e prejuízos na casa dos 81 bilhões de dólares. Pitt, que é apaixonado pela comuna, foi uma das celebridades mais comovidas com a tragédia e colocou, literalmente, a mão na massa. Em parceria com sua organização, Make It Right, construiu cerca de 150 moradas para abrigar as vítimas do bairro de Lower 9th Ward, o mais assolado pelo furacão. A ONG fundada pelo ator viabilizou para a área projetos de poderosos escritórios de arquitetura, entre eles o holandês MVRDV e o japonês Shigeru Ban. Algumas residências, como um sobrado de 165 metros quadrados, foram projetadas pelo canadense Frank Gehry, de quem Pitt é superfã – e amigo. Na época era muito comum ver o astro circular de bicicleta pelas vias e auxiliando as equipes. A Make It Right edifica até hoje casas, prédios e comunidades para pessoas necessitadas. Os projetos da fundação têm certificado LEED Platinum e contam com alto padrão de sustentabilidade. Tudo isso sobre as vistas exigentes do astro que agora desenha móveis.
O Homem que Mudou o Jogo
A duas semanas de se formar na faculdade de jornalismo, Brad Pitt largou a vida em Springfield e foi para Hollywood trilhar o caminho das artes cênicas. Quando estacionou em Los Angeles, tudo o que tinha em mãos era uma mala, um carro modesto e a sede de ser ator. Sem eira nem beira, dormia na lata velha e se alimentava só de fast foods. Mal sabia ele que a aventura renderia uma pontinha no filme No Man’s Land, do diretor Peter Werner. Com beleza e talento à flor da pele, não demorou para que começasse a receber convites para fazer um filme atrás do outro, o que o transformou quase que automaticamente numa das marcas mais rentáveis da indústria. O currículo passa das quarenta películas, com três indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro (ele abocanhou o prêmio por sua atuação em 12 Macacos, de 1995). Agora Pitt deliberou outro sonho: o de desenhar. Não chegou a rabiscar nenhum prédio, mas ajudou o staff do escritório GRAFT a projetar um hotel de luxo em Dubai. Sua coleção de móveis em parceria com o designer americano Frank Pollaro é a empreitada da vez, como KAZA mostra com exclusividade no Brasil.