Balanço do tempo
Balanço do tempo
Por Caroline Pereira
Fotos Juliano Colodeti, MCA Estudio
O designer e marceneiro carioca Rodrigo Calixto, 33, desponta como um dos mais promissores da nova geração da mobília brasileira
Ele se envolve apaixonadamente em todas as etapas de produção na sua descolada oficina, a Ethos, localizada no charmoso sobrado carioca, construído em 1918, ali na Rua Camerino. Do desenho ao corte da madeira e finalização das peças, tudo passa pelo crivo rigoroso de Rodrigo Calixto e do seu novíssimo sócio nos negócios, Guilherme Sass, 24. A vocação para ser original e contemporâneo na profissão mais antiga do mundo despertou graças ao hobby do pai, cuja marcenaria enchia os olhos do garoto que aos 17 anos ingressou na faculdade de desenho industrial da PUC-Rio. Antes mesmo de se formar, alugou o canto de uma marcenaria no Centro onde aprimorou técnicas.
A Ethos surgiu ali e, desde então, produz mobiliário carregado de belas curvas e temperado com generosas doses de emoção e de poesia. “São três andares, dos quais utilizamos os dois primeiros e o terceiro é ocupado por um amigo artista plástico, também da madeira. Temos uma configuração peculiar: 40 metros de comprimento e apenas 4 de largura, o que ao longo dos anos fez com que o nosso crescimento fosse todo verticalizado. Ou seja, fizemos alguns andares intermediários para estocar madeiras e criar espaços para novas máquinas”, explica Calixto. “Gosto da ideia de transmitir toda a história que envolve a criação e o contexto”, arremata o neocarpinteiro que elegeu cortes de vinhático, imbuia, peroba-rosa, pequi e roxinho como suas madeiras prediletas.
As peças que esculpe ganham nome e pedigree, como o balanço Bilanx, que representa junto à gangorra Momento – menção honrosa na última edição do Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira e peça que estampa a capa desta edição – uma dupla cuja premissa lúdica encanta cada vez mais os adultos.
A memória afetiva é um dos fios condutores, não só em forma dos brinquedos, mas também no material. Ferramentas clássicas, verdadeiros garimpos da marcenaria como serrotes japoneses e instrumentos das décadas de 40 e 60 convivem com tecnologias de ponta como o corte a laser. A produção seriada une os processos resultando em métodos industriais com alma artesanal, seja na confecção de um banco ou num trabalho mais artístico, como as xilotecas que Rodrigo assina.
No horizonte da Ethos estão projetos ainda mais ousados. A exposição Safra, de 1866, ainda sem data para estreia, surge de um tesouro em forma de raras madeiras de demolição. Espécies como pau-brasil, jacarandá e braúna, que uma vez deram forma ao antigo prédio do colégio carioca Anglo Americano, estão à espera do serrote do designer. “Será o encontro do colonial com o contemporâneo”, detalha Rodrigo.