A beleza do caos
À frente do RDAI, um dos mais importantes escritórios de arquitetura do mundo, o francês Denis Montel já desenhou mais de cem lojas Hermès
POR CLÁUDIA JORDÃO / FOTOS RAPHAEL BRIEST
Nascido e criado na capital francesa, Denis Montel, 43 anos, havia acabado de se formar na Escola de Arquitetura de Paris quando recebeu um convite inusitado. Filha da renomada arquiteta Rena Dumas e do então CEO da Hermès Jean-Louis Dumas, Sandrine queria que ele projetasse sua maison na cidade. “Perguntei porque ela não pedia à própria mãe e ela respondeu que elas certamente brigariam”, lembra Montel. Topou o desafio e depois de finalizar o apartamento recebeu a proposta para trabalhar no RDAI - Rena Dumas Architecture Intérieure. Foram mais de dez anos de convivência profissional, até que, em 2009, ela faleceu e Montel assumiu a direção do negócio. “Extremamente exigente, Rena foi uma escola e tanto”, diz Montel.
O RDAI é um dos mais importantes escritórios de arquitetura do mundo, com projetos na Europa, Oriente Médio, Ásia, Estados Unidos e Brasil. Seu foco é a arquitetura de interiores e o design de objetos, como a série de mesas Surface and Volume (2012). Além de outras obras comerciais, Montel já desenhou mais de cem lojas Hermès, caso da filial Rive Gauche, em Paris (2010), montada onde funcionava uma piscina entre os anos 1930 e 1960. “O projeto foi um desafio”, conta sobre a obra que conquistou prêmios como o WAN Retail Interiors de 2011.
Em setembro, começou a dar aulas de Arquitetura de Interiores na mais antiga e respeitada escola de artes decorativas em Paris, a Essad (Escola Superior Nacional de Artes Decorativas). E desde a morte de Rena, ele vem expandindo a atuação do escritório para o setor residencial. Nos últimos anos, fez uma casa em Tóquio. Além disso, assinou o hall de entrada, biblioteca, brinquedoteca, piscina e spa do condomínio paulistano Residência Cidade Jardim (JHSF), que começará a ser entregue em 2015.
Montel passou as férias em São Paulo e aceitou o convite de KAZA para uma visita ao MuBE (Museu Brasileiro de Arquitetura), nos Jardins. Projetado pelo Pritzker brasileiro Paulo Mendes da Rocha, é um dos cartões-postais da cidade. Solteiro e pai de um garoto de 8 anos que adora Pokémon, Montel chegou pontualmente. Vestia calça e blazer de linho, apesar de os termômetros marcarem 10ºC. Não costuma usar artigos Hermès. “Gosto do estilo, mas prefiro roupas menos clássicas”, diz. Em três horas, tomou dois cafés, fumou dois cigarros e quis experimentar um bauru, assim que soube que o lanche era típico. “O conjunto todo parece uma escultura”, disse. “Apesar de bruto e às vezes rude em sua expressão, o brutalismo é poderoso e poético”, disse. Mas, parece ter sido fisgado mesmo pelos jardins de Burle Marx. Gastou alguns minutos contemplando um lago com carpas, cercado por plantas e decorado por esculturas. Revelou-se um homem simples – assim como a sua arte, que é sofisticada, sem ser ostensiva. Europeu típico, está acostumado a andar e, em Paris, vai e volta a pé de casa para o escritório. Trabalha de 10 a 12 horas por dia e quase sempre almoça no local na companhia da equipe. Em São Paulo, ficou hospedado na casa de amigos no Sumaré. Desbravou a região do Edifício Copan de Oscar Niemayer (e disse que facilmente moraria no Centro), Higienópolis, Paulista e Vila Madalena. “Sabe o que acho mais belo em São Paulo? Constatar que, no mesmo quarteirão, há prédios de diversos tamanhos, formas, estilos e épocas. A beleza de São Paulo está nos detalhes”, disse o pupilo de Rena Dumas . “E no caos”, concluiu.