O PENSADOR DAS CIDADES

Mario Cucinella desenha prédios e espaços públicos em sua escala mais humana

POR LEONARDO SALDIVA  /  RETRATO ALEXANDRE PIRANI 

“Foi como curar uma cicatriz na cidade”. Assim Mario Cucinella descreveu seu trabalho de restauro de uma área no coração de Catânia, região ao leste da Sicília, na Itália. Arquiteto de formação e urbanista por paixão, o italiano esteve recentemente em São Paulo para participar da Bienal de Arquitetura – onde apresentou a requalificação de um projeto que foi protelado por mais de 50 anos. Aprendiz de Giancarlo De Carlo e apadrinhado por Renzo Piano, montou o seu escritório em 1992 e, desde então, tornou-se referência em arquitetura sustentável e planejamento de espaços urbanos. Diretor da Plea (Passive and Low Energy Architecture) e fundador da ONG Building Green Futures, Cucinella é considerado um dos mais importantes nomes em sustentabilidade no mundo. Ele acredita que a arquitetura sustentável é a prática de se pensar na relação da cidade para todos e os impactos de cada construção. “As teias invisíveis que tecem a fibra social de uma cidade são as principais preocupações do meu trabalho”, diz. Segundo o arquiteto, a maior falha da cidade contemporânea é fazer com que as pessoas não se sintam em casa graças à perda da identidade dos novos prédios que não se identificam com a cultura do lugar. Por isso, em Catania, o arquiteto retomou as raízes barrocas da região ao desenhar um espaço curvilíneo, fluido e múltiplo. “O barroco foi uma revolução. Quem desenha a cidade e quem usa a cidade? A ideia é criar uma identidade e entender que a cidade pertence ao povo e não aos arquitetos, os usuários são os cidadãos, somos nós”, postula o alegre italiano ao caminhar pelo verdejante Parque do Ibirapuera em uma ensolarada manhã de Sampa.