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O boom da decoração

O boom da decoração.

 

Cada vez mais os brasileiros se preocupam em decorar suas casas

 

Por Leonardo Saldiva

 

Design e decoração brasileiros não são nenhuma novidade. No ramo, nomes como os dos Irmãos Campana, Sérgio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, e tantos outros colocaram o Brasil no ápice do consumo de mobiliário de luxo – assim como nomes atuais como Zanini de Zanine, Hugo Sigaud, Guilherme Torres, Maurício Arruda, Guto Requena e muitas outras apostas contemporâneas comprovam o status do país como marca para exportação.

 

Entretanto, o que antes era tido como um requinte exclusivo para as elites brasucas ou eram apenas móveis para gringo ver, agora chegou aos lares de  diferentes níveis sociais de consumidores brasileiros.

 

Os mais otimistas vêem um enorme potencial no setor. É o que afirma Eduardo Cecílio, diretor de marketing da Mac Móveis (empresa há 32 anos no ramo) ao relembrar a breve história do design brasileiro. “Estamos retomando os anos dourados que já vivenciamos algumas décadas atrás. Alguns marcos importantes marcaram a evolução do design brasileiro como um todo. A semana de arte moderna trouxe-nos uma libertação nas artes plásticas, o que contribuiu para o design gráfico nacional. O concretismo marcou um estilo literário e influenciou nossa arquitetura. O surgimento de Brasília impulsionou grandes nomes no design de mobiliário, já que até então não haveria nada adequado e genuinamente brasileiro para decorar nossa capital modernista. Nesta época, grandes nomes despontaram e vivemos décadas que revelaram o potencial do design brasileiro. Depois disso, vejo que ficamos focados no movimento neoclássico, mas agora estamos retomando a criatividade nativa do nosso povo, muito endossada pela nossa diversidade cultural, ambiental; resgatando nossas raízes e trazendo para uma atualidade global. Capto grandes nomes que representarão esta nova geração e que marcará um período intenso de produção de qualidade. No entanto, mercadologicamente, ainda temos uma maioria conservadora, a qual entendo que logo menos deva se render aos encantos do novo. A imprensa tem desempenhado um papel muito importante em trazer ao Brasil as tendências e movimentos globais e isto torna o mercado mais receptivo às novidades e menos resistente para ousar”, explica.

 

Cecília Rima Braz, presidente de uma das mais importantes feiras de decoração voltadas para os lojistas do país, a ABUP Show, o talento dos profissionais tupiniquins é inegável . “Vejo o profissional de design cada vez mais atualizado e criativo. Isso reflete nos produtos com o desenho brasileiro. Em linhas gerais, o design nacional vai muito bem, obrigada. Em ascensão e muito bem visto lá fora”, comenta.

 

O perfil do consumidor

 

Além da tradicional classe alta que se esbanja em lojas de alto padrão na tradicional Meca do design brasileiro, a Al. Gabriel Monteiro da Silva, a classe média entrou no jogo e começou a comprar seu mobiliário em lojas específicas do setor. Um dos grandes exemplos disso é o crescimento no número de lojas do setor. Só a D&D, uma das maiores lideres do mercado, abrirá ainda neste ano cinco novos endereços.

 

Os clientes, por sua vez, estão cada vez mais exigentes com quesitos como design e inovação, é o que aponta o estudo “O Setor de Móveis na Atualidade: Uma Análise Preliminar”, feito pelo BNDES sob a gerência de Sergio Eduardo Silveira da Rosa – o estudo ressalta a “importância do design  para a competitividade.”

 

Segundo Eduardo da Mac Móveis, a empresa segue um crescimento constante desde a sua fundação e, hoje, o apetite dos clientes têm se adaptado aos padrões internacionais. “Nós temos, hoje, no Brasil, diferentes extratos da população que valorizam diferentes atributos. Todo mundo, contudo, gosta do bom, bonito e barato - só que esta conta nem sempre fecha para as organizações. O consumidor preza sobretudo pelo design e a durabilidade dos móveis. Isso porque ele conhece tudo que está rolando pelo mundo e não quer ficar de fora. Vivemos em uma época de cidadãos globais. O que é bacana aqui também é lá fora e vice-versa. Preço sempre conta, porque mexe no nosso bolso, mas a emoção sempre fala mais alto, porque vem do coração”, explica.

 

Para Marisa Ota, curadora da Paralela Gift (uma das maiores feiras do design brasileiro) o trade ainda está se definindo. “É um mercado em transformação e vejo que existe um crescimento e um olhar atento de pessoas que fazem a diferença. Trata-se de um mercado que cresce cada vez mais.  Acredito em projetos e iniciativas que valorizam o nosso potencial, essa diversidade cultural que conecta com o design e cria caminhos novos. Caminhos que geram renda, agregam valor ao nosso produto e ampliam possibilidades. Todos querem algo que seja funcional, belo e sustentável. Os nossos compradores já vêm à feira com o intuito de encontrar produtos bacanas, com design e com o diferencial da exclusividade”, finaliza.

 

 

As dificuldades do mercado

 

O ramo, porém, ainda encontra resistência e falta de informação na hora de compreender o que realmente é valoroso na hora de avaliar o que é decoração de alto nível. Para Silvia Serber, da Atec Original Design (presente no mercado brasileiro desde 1987 e maior representante da marca Herman Miller na América Latina), ainda falta a cultura do décor para o grande público. “É um mercado em crescimento, mas um pouco confuso em relação ao verdadeiro sentido da palavra design. Houve um aumento do interesse por design, mas como disse, muitas vezes equivocado. Acho que as pessoas estão cansadas de muita informação inútil. Por isso valorizam o atendimento diferenciado e de conteúdo. Há um crescimento notável na procura por produtos originais. O desafio é ser inovador e dar um excelente atendimento ao cliente”, explica.

 

A mesma opinião é partilhada por Eduardo Cecílio. “Pessoas têm acesso ao que há de melhor e mais atual no mundo todo. Isto fez com que nossa marca estivesse constantemente atenta às tendências do design como um todo. A dinâmica de acompanhar as evoluções de tendências fez com que a Mac se organizasse para adaptações. Podemos notar estas características no desenvolvimento de nossos produtos que começaram com alumínio e fibra sintética, depois trouxemos o sling e a tapeçaria e, hoje, nossas maiores vendas são os móveis com a madeira Cumaru”, exemplifica.

 

A necessidade de inovação reflete no trabalho de curadoria de Marisa Ota, na Paralela Gift. “É importante ter um olhar atento e criterioso para selecionar os produtos. Um dos principais legados das feiras está no posicionamento dos expositores no mercado, já que a maior parte caracteriza-se pela produção artesanal e autoral e pelo uso de novos materiais na sua coleção. Em toda edição, busco apresentar e convidar alguns designers/empresas para participar de ‘projetos especiais’, como aconteceu com a Lyptus em 2010, na qual designers convidados lançaram uma coleção especial feita a partir da madeira Lyptus. Esta iniciativa buscou incentivar o uso desta madeira no mobiliário, totalmente extraída de florestas renováveis a partir de árvores plantadas, com manejo sustentável e certificado. Além, é claro, de estimular a responsabilidade ambiental e social dos visitantes, lojistas e designers que passaram pelo evento”, conta.

 

Para Eduardo, a carência de mão de obra qualificada acentua as dificuldades de se vender móveis no país. “Não só no setor moveleiro mas em qualquer lugar- o cliente sempre busca pela excelência no atendimento. Carecemos de profissionais capacitados em toda a cadeia, do artesão que manuseia o móvel e precisa entender que é um produto de alto valor agregado e que não pode apresentar qualquer tipo de falha até a ponta, que é ter um bom vendedor que saiba defender as qualidades do produto, que saiba encantar o consumidor, transmitir os valores da marca e vender não só o móvel, mas todo o encanto que se pode extrair dele. Hoje, as marcas buscam vender experiências e, para isso, toda a cadeia precisa entregar uma experiência positiva ao consumidor, para que após a compra, ele possa conviver e experimentar tudo o que foi colocado de dedicação na confecção daquele produto. E não é só isso, a marca precisa buscar o consumidor e colocá-lo em situações que gerem momentos memoráveis para ele levar consigo e compartilhar com seus próximos. Sem isso, somos todos assentos; e assento por assento ficamos com o mais barato”, conclui.

Cecília Rima Braz; Eduardo Cecílio; Marisa Ota  

As grandes feiras e eventos

 

No setor de mobiliário, as grandes feiras e eventos têm papel de destaque. Em eventos conhecidíssimos no calendário cultural como a Casa Cor, que teve início em São Paulo agora no final de Maio, e mais exclusivos como a Mostra Black, aberta também em Maio, milhares de consumidores procuram conhecer melhor o mundo da decoração. No mundo, a ART Basel de Miami e o Salone de Milão fazem milhares de pessoas do mundo inteiro pegar as malas para conhecer as tendências do design mundial.

 

Enquanto isso, feiras como a Paralela Gift e ABUP Show reúnem centenas de compradores para definir os rumos do setor no Brasil. Para Cecília Rima Braz, presidente da ABUP, a importância desses eventos é “Desenvolver o setor como um todo, movimentar o mercado e abastecer as principais lojas do país que atuam no segmento casa.”

 

Para Marisa Ota, da Paralela Gift, o crescimento do comércio mobiliário apresenta resultados na feira que faz curadoria. “Temos uma média de 60 expositores por edição é um número constante e varia muito pouco. Como fazemos duas feiras por ano, alguns participam da primeira, outros da segunda, e outros de ambas. A Paralela Gift sempre apresentou uma coleção na área de decoração, design de produtos e mobiliário e a 2 edições que segmentamos a feira em produtos e mobiliário, seguindo a necessidade do mercado.  Há um calendário que seguimos e com isso criamos a feira de móveis, que cresceu  mais de 50% nessa última edição, isso significa que alinhamos as necessidades dos compradores no foco e na qualidade”, conclui.

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