Um anúncio de TV
Bonito e descomplicado, o projeto de Lua e Pedro Nitsche para a casa dessa família linda e jovem é a cara de uma geração que só quer ser feliz, como nas propagandas de margarina
Por Cynthia Garcia / Fotos Romulo Fialdini
Ao chegar à casa do Ricardo e da Maia Whately, bato os olhos na fachada, gosto da simplicidade objetiva, bem desenhada. Ainda sem entrar na casinha sem portão, surge o Ricardo de bicicleta e capacete vindo da produtora onde é sócio-diretor, situada no mesmo bairro. Curti o visual e a vibe da casa e do dono. Ok, confesso, tenho xodó por vilinha. Morei numa nos meus primeiros oitos anos nessa grande urbe. Ronald e eu éramos jovens, ele, arquiteto com passagem no escritório de Oscar Niemeyer (que mais tarde entrevistei várias vezes), reformou a casa onde demos ótimas festinhas para nossa turma de modernos e tivemos nossa primogênita, America, hoje casada, no Rio, fazendo o caminho inverso que trilhei. Minutos depois, abre a porta pivotante da entrada. É Maia, cheia de energia, anunciando: “Pronto, chegou a mãe da família ‘Doriana’!”.
Amor à primeira vista, os dois lindos se casaram em seis meses. Dez anos mais tarde eles têm a Luiza, 9 anos, o Matheus, 7, e a Maria, a fofa de um aninho e meio. “Ela veio bem no meio da obra. Tivemos que pedir para a Lua retirar o vão do primeiro piso e preencher com mais um quarto”, conta Maia com seu físico perfeito de atleta – eles correm no Ibirapuera às seis da matina e depois deixam os dois maiores no colégio. Lua é irmã do arquiteto Pedro Nitsche, os arquitetos que assinam a quatro mãos o projeto que teve coordenação de Tiago Kuniyoshi. Juntos com João, o caçula, formam o trio à frente do Nitsche Arquitetos Associados, uma das melhores promessas da nova arquitetura brasileira. Na veia desse trio corre um legado de peso: são filhos dos artistas plásticos Carmela Gross e Marcello Nitsche. Desde crianças, conviveram com a fina flor da nossa cultura – a casa da família foi projetada por ninguém menos que Paulo Mendes da Rocha. O dia a dia em uma casa com projeto inteligente unido à sensibilidade artística familiar é uma benção, a criança já nasce com diferencial, acredite. É o que prevejo para Luiza, Matheus e Maria, a nova geração dessa família, parente do Charlô Whately, famoso banqueteiro, que viveu na mesma vila quando menino.
Com aproveitamento máximo do terreno de 6 metros de largura e 29 de comprimento, a casa original foi demolida dando lugar ao lar de 220 metros quadrados dispostos em três pisos com quintal, edícula, três quartos e, no último, a privacidade da suíte do casal com terraço e chuveiro ao ar livre para os dias de calor. No térreo, a área de convivência reúne o estar, sala de refeições, cozinha, e o que for. “Sempre gostei dessa integração. Maia e eu estamos onde o bando está. Gostamos de ficar um cozinhando, o outro puxando conversa. A Luiza não perde nada de ação, quer logo saber qual é a função dela. O Matheus se apossou mais da rua, procura os vizinhos pra jogar bola no fundo da vila, e quando a Maria ficar de pé, vamos ter um cachorro”, diz o jovem paizão. Ele é parente de Otavio Zarvos, brilhante empresário por trás da IdeaZarvos, que vem modernizando o conceito de morar e trabalhar em São Paulo com suas incorporações antenadas, bem-sucedidas, como o Edifício João Moura, outro belo projeto dos irmãos Nitsche, premiado em 2012 pelo IAB. E foi assim que a família ‘Doriana’ do Ricardo e da Maia chegou à Lua. E é de onde eles miram o sol, de um jeito só deles, tipo comercial de margarina.
Frase-destaque:
Do deque nos fundos, ladeado pelo jardim, ou do terraço lá em cima, debruçado sobre a vila, o sol está ao alcance da família