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Contém 10 toneladas

  • Contém 10 toneladas

  • por André rodrigues fotos drew kelly/photofoyer

  • Jeff Wardell e Claudia Sagan tomaram de assalto o loft em São Francisco, na Califórnia, e plantaram ali contêineres de proporções transatlânticas para abrigar, entre outras paixões, sua espetacular coleção de arte de rua

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  • O que fazem dois contêineres gigantes no meio da sala? “O laranja é o quarto de hóspedes, e o azul é meu home office”, explica Jeff Wardell, ligeiramente. Ex-consultor do mercado financeiro, o americano prefere direcionar a entrevista para outro exagero que abriga dentro de casa: a imensa coleção de street art, com ênfase no Brasil. “Conheci o trabalho de Os Gêmeos em 2003. Me apaixonei de imediato. Hoje tenho dois grafites enormes e duas esculturas assinadas por eles. Mais tarde fui ao Brasil especialmente para ver sua primeira exposição solo na galeria Fortes Vilaça. Visitei Otavio e Gustavo em casa, conheci sua mãe, que foi muito especial comigo – além de Nina Pandolfo. Acho que vi mais de 60 obras assinadas por eles nas ruas de São Paulo. Foi uma das melhores viagens que já fiz! Também passei bastante tempo enlouquecido com o acervo da Galeria Choque Cultural”, conta.

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  • As 140 obras – “metade nas paredes do loft e o restante espalhado pelas casas de amigos, depósitos e escritórios” –, começaram a ser garimpadas nos anos 1990, quando Jeff conheceu sua atual namorada, Claudia Sagan. Eles nunca se casaram, nem tiveram filhos – embora o endereço esteja sempre cheio. “Mas as pinturas são nossas verdadeiras crianças”, brinca ele. Então passam boa parte do ano perdidos em viagens pelo mundo – chegaram a percorrer mais de 25 mil quilômetros na garupa de uma motocicleta na Europa. Em 2007, já com uma coleção transbordando pelas janelas da antiga casa – entre as quais figuram outros brasucas como Zezão, Daniel Melim, Speto, Herbert Baglione, Kboco, Ciro Schumman e Vitche –, decidiram que era preciso mais espaço para abrigar o legado pop. O refúgio perfeito ficava no bairro de Pacific Heights, um dos endereços mais disputados do norte californiano. 

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  • O edifício de 350 metros quadrados divididos entre quatro andares antes abrigava uma lavanderia chinesa, com interior livre de colunas de sustentação. Em vez de compartimentar o espaço, o casal optou pelo contrário: contemplar o respiro arquitetônico. Assim sendo, a suíte principal foi projetada aos fundos, longe da rua, enquanto cozinha e living passaram a dividir o meio e a frente da morada, respectivamente. No terraço, um ofurô modernoso, de metal e concreto. Para um toque extra de frescor, despiram as paredes de revestimento e trocaram o piso por nogueira-pecã, favorecendo as placas maiores – para ampliar mais o loft e deixá-lo com uma cara de armazém, um tipo de ambiente que favorece o display das obras de arte. 

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  • Então entrou o elemento surpresa: como criar um quarto de hóspedes que fosse confortável e aconchegante, mas não o suficiente para que as pessoas ficassem ali para sempre? Wardell se lembrou de uma viagem de trem que havia feito quando tinha vinte e poucos anos, em que ficou hospedado num vagão com uma cama rebatível (daquelas que entram na parede para economizar espaço). O que havia de mais próximo a um vagão disponível no mercado? Um contêiner de navio.

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  • Já em 2008, com as caixas compradas e em fase de reparo e adaptação, um engenheiro foi contratado para reforçar o piso do loft com uma estrutura de madeira para acomodar a carga pesada: dez toneladas de aço que invadiram o espaço por meio de uma abertura no telhado. “Recebemos muita gente aqui e acho que o contêiner é quem escolhe as pessoas que vão pernoitar nele.

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  •  Muitas pessoas ficam hospedadas por conta das obras de arte, e é ótimo porque a Claudia adora cozinhar, foi criada numa família italiana enorme e seu negócio é receber. A cozinha toda foi projetada a partir de suas ideias. Eu só cuido dos vinhos”, conta Jeff, que ainda usa o pouco tempo que sobra para cuidar de uma galeria de arte on-line chamada Chester’s Blacksmith Shop. A especialidade? Pop surrealismo, claro: “A arte de rua me interessa porque ela não mede consequências, não enxerga obstáculos e assume riscos altíssimos para ser veiculada”, finaliza.

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