Galerista paulistana mostra com exclusividade o seu acervo particular,pontuado por mobília bossa-nova e expoentes das artes plásticas e do design genuinamente brasucas
Apaixonada pelos Jardins, bairro da zona oeste da capital paulista assinalado pelas residências de perfis horizontais e pelo traçado arborizado das ruas, esta galerista low profile elegeu a região como morada perfeita há pelo menos 15 anos. “O lugar é especial e charmoso. Por ali é possível caminhar a pé, visitar livrarias, restaurantes, cinemas e curtir as lojas”, diz.
Depois de duas repaginadas, o apartamento manteve a farta iluminação natural e recebeu linhas mais ousadas na integração dos ambientes, aumentando, assim, a sensação de conforto visual.
Para preencher os espaços, a dona do pedaço começou com a escolha do sofisticado piso de mosaico português – aquele usado nas vias públicas de São Paulo antes do calçamento padrão e também nos interiores do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista –, seguido pelo mobiliário assinado por obeliscos da marcenaria brasilis como Sergio Rodrigues, Joaquim Tenreiro, Giuseppe Scapinelli e Zanine Caldas. “Gosto da decoração atemporal.
Por isso, a última reforma foi idealizada para eliminar o compromisso com as cores, os materiais ou os projetos que denunciassem as datas, apesar de a informação maior ser focada nas décadas de 1950 e de 1960, que valorizavam a madeira, principalmente o jacarandá.” Embora a monocromia prevaleça por quase toda a planta, as pinceladas vibrantes se sobressaem nas telas que recheiam as instalações, garantindo ares contemporaneous ao endereço.
“Algumas obras também pertencem ao período construtivista, que foi um grande movimento da arte nacional, e se tornaram objetos especiais que fazem parte da herança familiar ou foram garimpados em coleções particulares e leilões.” Entre os highlights, Hércules Barsotti, Pitágoras Lopes Gonçalves, Judith Lauand e Leon Ferrari. Independente e, ao mesmo tempo, vinculado com as métricas imaginaries da galeria de nome homônimo, o apartamento habita como um organismo que se junta ao olhar curioso de sua inquilina para completar um espelho permanentemente criativo de faces contínuas. De um ponto a outro do living, o piano de cauda dita o ritmo da sinfonia afinada que toca por aquelas bandas – e é dedilhando suas teclas em muitos si bemóis que a galerista se diverte e aproveita para curtir o pôr do sol de cadeira cativa.
Entre o dó-ré-mi cotidiano, também merece nota a funcionalidade dos armários estampada nos corredores que conectam as áreas sociais às privativas, assim como na cozinha gourmet arrematada por uma pequenina copa. No eixo principal – e exclusivo – do domicílio, a mesma paleta neutra vista nas salas de estar e de jantar se mantém absoluta. “Com o estilo sóbrio e as tonalidades projetadas apenas nos detalhes, a decoração se destaca tornando a atmosfera leve, o que é prazeroso na permanência em um local, por exemplo, como a biblioteca, onde se pode tomar um café e ter um bom livro às mãos, perfeitamente acomodado na poltrona Mole, de Sergio Rodrigues.” Eis um desses agradinhos que ela se permite vez ou outra.