Quinta reloaded
Quinta reloaded
Por Allex Colontonio
Propriedade agrícola secular nos arredores da cidade do Porto ganha encarnação neoconcreta pelas mãos do arquiteto português Nuno Graça Moura
É muito comum ver toda sorte de negócio agrícola na órbita da cidade do Porto, em Portugal. Entre vinhedos, oliveiras e pés de cortiça, a Quinta do Ribeiro, em Avessadas, a pouco mais de 30 minutos da cidade, está apinhada deles.
Por ali, o terreno de aproximadamente 7 hectares, com declive acentuado, se espreguiça entre pradarias bucólicas que resumem a paisagem rural europeia e remetem aos fados de outras épocas.
Abocanhar essa paisagem exuberante foi uma das preocupações do autor e um dos donos do lugar, o arquiteto Nuno Graça Moura, ao projetar a aldeia privê de sua família. Por ser tão impactante, havia a necessidade de que a vista fosse valorizada, porém não o tempo todo – privacidade e recolhimento também eram artigos indispensáveis em seu estatuto. Para isso foi criado um alpendre com pé direito duplo transformando o living principal em um cômodo praticamente ao ar livre, enquanto os ambientes do andar de baixo ganharam uma leve cortina vegetal. Nada mais agradável para uma casa de campo.
Esses traços absolutamente contidos e integrados à natureza são ponto alto da estética lusitana, seja nas casas que se nutrem dos princípios clássicos, seja nas obras de obeliscos do modernismo portuga, como no traçado do vencedor do Pritzker Álvaro Siza Vieira (nascido pertinho dali, na vizinha Matosinhos, diga-se de passagem). “É praticamente um bloco de paralelepípedo, apenas com formas realmente necessárias”, explica Graça Moura. Por isso, apesar da estrutura modernosa e imponente em seu volume de concreto aparente, o norte do arquiteto foi o estilo camponês popular da cultura portuguesa, desenvolvido por agricultores “numa época em que não havia arquitetos”. A inspiração estava bem à mão. No lugar do grande cubo neoconcreto que Moura plantou – uma caixa única de 220 metros quadrados –, havia uma construção rural do início do século 20, sede do beneficiamento da uva que se plantava às margens do Rio Tâmega. Boa parte das pedras típicas da região – granito amarelo – utilizadas no novo projeto foram aproveitadas da legendária sede.
O entorno está praticamente intocado. “Apenas liberamos a frente da morada, mas a pradaria natural está preservada, nada de paisagismos milimetricamente planejados, à inglesa”, conta Graça Moura. Partindo dessa premissa, a caixa tem face única, com todos os cômodos voltados para a mesma paisagem. “Fazer o simples é difícil. É um grande desafio achar o ponto preciso onde se encontra somente o essencial”, conclui.