Madame Murad
Madame Murad
Arquitetura modernista, boas histórias e décor minimal mood 80 dão o tom na morada paulistana da empresária e jet setter paulistana Verane Murad
Por Flávio Nogueira Fotos por Rômulo Fialdini
Chove a cântaros em São Paulo. E os termômetros ainda registram 16 graus – algo atípico para um começo de março. Estou numa das ruas mais bonitas do Morumbi, bairro bamba da zona sul de Sampa.Toco a campainha de uma das casas mais imponentes daquelas bandas, o château da jet setter Verane Murad. Ao passar pelo portão, soltei um sonoro “uau!”. Alguns metros depois encontro La Verane, chiquérrima com look assinado pela estilista e amiga Gloria Coelho dos pés à cabeça. Ela está sentada na varanda, de frente para seu jardim assinado pelo catedrático máximo do paisagismo, Burle Marx, com piscina em forma sinuosa, em contraste com o purismo do volume de concreto. Ao seu lado, o maquiador – do staff do estúdio de Mauro Freire – separa o make Chanel, o predileto da anfitriã. Ela me cumprimenta e grita: “Oswaldo, traz um vinho branco”. E lá vem o simpático mordomo munido com a bebida e as taças: “Querido, traz também umas frutas secas pra gente”. Murad acende um cigarro e dispara: “Posso falar mal do meu ex-marido?”, antes de gargalhar. Figura imprescindível nas altas rodas, Verane é mulher muito querida no high society e figura carimbada nas colunas sociais. Muito disso tem a ver com sua classe e seu humor.
A residência de linhas modernistas foi erguida há exatos 30 anos pelo arquiteto Idal Feferbaum. Murad vive ali desde então. Os números são garbosos: 1.500 metros de área construída, quatro pavimentos, elevadores, cinco suítes, sala de leitura, bar, sauna, além de quatro quartos e uma sala de TV só para os empregados. “Mas o projeto original mudou muito. Quando vim morar aqui o layout tinha um estúdio de fotografia e um recinto de música. Com o tempo, algumas alterações foram feitas e ficou assim, mais amplo e minimalista.” No térreo, o palacete se revela sem frescuras e com um perfume contido, meio anos 1980 – lindo para alguns, vazio demais para outros tantos e original para todo mundo. Nada de adereços, biombos ou tapeçarias: por lá, dúzias de mobiliários do designer francês Philippe Starck, LeCorbusier e Jean Nouvel adornam o décor que teve curadoria de Caio de Medeiros e pitadas surreais como as poltronas aladas. Nos acessórios, cinzeiros de murano, vasos, castiçais e caixinhas art nouveau e art déco, quase todos herdados da família, estão espalhados de forma harmônica tirando partido da persona. À esquerda, antes de chegar à cozinha, fica a sala de jantar, Murad aponta cada obra e conta uma história. O baú chinês quase milenar que também era de sua mãe temuma “bio” tão boa quanto a dela. “Recebi muita gente para jantara qui. Você acredita que na primeira vez que o Rav Berg, papa da Kabbalah, esteve no Brasil se sentou nessa cadeira?”, apontando para uma das poltronas vermelhas de couro de monsieur Starck. “Fora o Pedro e o Reinaldo Lourenço, que são meus amigos de longa data. Aliás, fui eu que apresentei o casal Reinaldo e Glória”, relembra.
Na cozinha, os empregados estão a todo vapor, incluindo Oswaldo,que ajeita as quiches e as saladas na prataria. Aliás, é lá que estão guardados os talheres banhados a ouro, legado da mãe. Agora é hora de subir as escadas. “Elas foram projetadas para não cansarem muito”, explica. Entre um lance e outro, uma pequena saleta abrigasua coleção de livros de arte e outros exemplares raros que arrisco dizer terem mais de 70 anos. Acima estão os quartos, mas ela interrompea visita e diz: “Ah, esqueci de mostrar o depósito onde farei em breve uma galeria”. E lá vamos nós para o subsolo com porão imenso, onde caixas e mais caixas de livros da Kabbalah formam pilhas. A conversa adquire um novo rumo. “Essa filosofia fornece as ferramentas para as mudanças positivas, quando você entende isso, muita coisa muda na sua vida.” De volta à área social, nos sentamos novamente enquanto alguém nos serve cheesecake e mousse de chocolate com cerejas frescas. Entre uma garfada e outra, Verane conta sobre suas idas a Paris: ela aterrissa na Cidade Luz de três em três meses para um tratamento de saúde. Em meio às risadas e lembranças, começamos a falar sobre arte e ela fofoca sobre os jantares na residência de Claude Picasso, filho do mestre cubista. “Lá tem umas peças muito especiais, uns brinquedos feitos por Pablo, quando os filhos eram pequenos.” Hora de ir embora. Meu carro chega e já na porta uma última surpresa: Verane manda um dos seus assistentes colocar no porta-malas algumas garrafas de água abençoadas por Rav Berg e diversos testamentos da Kabbalah. “Vai te trazer sorte, querido”. #temcomonãoamar?