Capital bossa-nova
Capital bossa-nova
As bases claras e espaços propositalmente livres do apartamento tríplex, no Rio de Janeiro, são um convite para a paradisíaca Praia do Leblon
POR FLORA MONTEIRO / FOTOS DENILSON MACHADO / MCA ESTÚDIO
As janelas, do chão ao teto, engolem a imensidão azul do mar. A varanda de piso cor de areia se debruça sobre a orla carioca. A cobertura, com escassos volumes verticais e piscina de borda infinita, flui na paisagem como uma perfeita extensão do horizonte, quase arranhando os céus. É assim que o apartamento tríplex de um jovem casal emoldura um dos mais emblemáticos cartões-postais do Rio de Janeiro – quiçá do Brasil – e faz jus à vista desconcertante da enseada bossa-nova. Decorada por esse cenário estonteante, não é de se espantar que a morada roube um extenso e profundo “uau!” de todos aqueles que passam pela porta de entrada. “A magia e beleza da cidade estão nos contornos naturais e nos contrastes de cores da paisagem. A arquitetura não pode brigar com esse entorno tão belo, mas sim descortiná-lo”, afirma Izabela Lessa, autora do projeto. O statement parece ser a filosofia de criação da arquiteta mineira, radicada há mais de uma década na capital fluminense, onde estão também cravadas quase todas as residências extraídas de sua prancheta. “Gosto de trabalhar com tonalidades neutras, explorar a amplitude dos espaços e abrir caminhos para a luminosidade e ventilação”, diz ela.
Nesse apartamento, localizado no Leblon – o badalado bairro, detentor do mais caro metro quadrado do País, é metiê de encontro de artistas e pessoas antenadas e um reduto gastronômico disputado –, a arquiteta levou a cabo suas premissas, sem, é claro, deixar de lado a personalidade dos moradores. O layout da maison em questão nada mais é do que a perfeita tradução, em linhas e volumes, do astral alto e do estilo de vida leve e saudável de um casal com filhos pequenos. Tratando-se de colecionadores de arte e bons anfitriões, não podiam faltar no refúgio cantinhos para acomodar os quadros e esculturas e para receber bem os convidados. “Eles não queriam que as obras ficassem ofuscadas e nem que recintos de lazer fossem escassos”, conta Izabela. Os clientes exigiram também uma casa para ser vivida e não apenas admirada. “Todos os espaços deveriam ser bem utilizados, trazer diferentes atrativos e permitir o acesso livre das crianças”, completa. A reforma, que durou um ano e meio, foi concluída no ano passado e deu uma cara completamente nova para esse oásis da contemplação.
Os 700 metros quadrados de área construída estão distribuídos em três andares. O acesso é feito pelo primeiro andar, onde ficam o living, a sala de jantar, o escritório, a cozinha e o quarto de hóspedes. Um lance de escada conduz às três suítes, à brinquedoteca e à sala íntima com saída para uma espaçosa varanda, onde fica o spa. Aqui a surpresa é grande! O encontro do mar com o céu pode ser apreciado de dentro de uma hidromassagem, construída sobre o piso de mármore travertino italiano, que remete à cor da areia. O convite para relaxar é feito também pelas chaises, dispostas de frente para a orla do Leblon. O terceiro e último andar guarda o highlight do refúgio: a piscina de borda infinita feita de pedras Batu Hinjau, importadas de Bali – quando molhada, a matéria-prima adquire a cor do mar e se camufla, como um camaleão, nas variações de tonalidades adquiridas, ao longo do dia, pela água salgada. Na cobertura fica também o espaço gourmet, com churrasqueira e forno de pizza.
Predominado por revestimentos e mobiliários em tons brancos e beges e por zonas amplas e propositalmente livres, o mise-en-scène do tríplex não entra em conflito com a exuberância do entorno e destaca as obras de arte – são das mãos de Vik Muniz, Gabriela Machado, Claudia Jaguaribe, entre outros, que saem, em forma de telas, quadros e fotografia, os únicos pontos de cor do layout. Móveis da Etel e do Arquivo Contemporâneo e luminárias de Maneco Quinderé arrematam esse cenário. Um verdadeiro espetáculo, no qual tudo flutua na imensidão azul do céu e do mar.