Projetos

Crônicas concretas

Crônicas concretas


A prosa traçada pelo sangue-novo (e bom) Marcelo Alvarenga apresenta uma arquitetura feita de cadência e personalidade na Pampulha, em Belo Horizonte

 

POR ADRIANA BRITO / FOTOS GABRIEL CASTRO

 

 

EM ALTA NO UNIVERSO DA CONSTRUÇÃO CIVIL, o termo retrofit vem sendo resumido como “conferir ares inéditos a um imóvel antigo”. No cinema, por exemplo, a palavra remake traz conotação semelhante e é usada por estúdios dispostos a testar soluções inéditas de produção em determinados clássicos, caso de O Planeta dos Macacos, cujo original de 1968 ganhou efeitos especiais impressionantes na refilmagem dirigida em 2001 por Tim Burton. Acima, living com cadeira Jangada, de Jean Gillon, e mesas de canto de Ronan e Erwan Bouroullec para Vitra. 

 

 

Voltando à onda neovintage que preenche arquitetura e decoração com o mais puro oxigênio, vale visitar um dos trabalhos recentes de Marcelo Alvarenga e Juliana Figueiró, a Casa ML – Retrofit, localizada na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Projetada inicialmente pelo carioca Marcos de Vasconcellos na década de 70, a morada foi adaptada no ano passado para receber um casal com três filhos. A entrada da casa possui tela de Amilcar de Castro e móveis desenhados pelo Play Arquitetura. 

 

 

O objetivo principal da mudança, conta Marcelo, era o de criar dois escritórios para que cada um pudesse tocar seus projetos com a devida independência, além de reformular os demais ambientes. “O maior desejo dela era que a cozinha estivesse integrada ao todo, mas na construção original isso era impedido por um grande hall de entrada que a isolava da área social e do jardim.”

 

O espaço gourmet passou então a incluir uma pequena varanda coberta – com churrasqueira, bancada com pia e mesa de apoio – e foi inserida onde antes era o hall, ao lado das salas de jantar e de estar contíguas à entrada principal. As mudanças continuaram através da inserção de uma garagem com telhado e da estrutura de serviços formada por lavanderia, dependências para empregados e depósito.

 

 

TIJOLO À VISTA Acima, mesa de jantar de Konstantin Grcic para Micasa e cadeiras de Marcel Breuer. Abaixo, cadeiras da loja Micheliny Martins e relógio de George Nelson. Para o arremate não poderia faltar o mobiliário de estilos variados, do modernista ao art déco e colonial, alguns repaginados e outros garimpados após a reforma, em que merecem destaque a mesa de alumínio e pés de concreto, assinada pelo designer Konstantin Grcic, e o sofá desenhado por Marcos de Vasconcellos, preservado pela família da qual a anfitriã é herdeira. Sobre eles, aliás, Marcelo fala com carinho: “Essa casa é especial, referência para mim no projeto em si e na elegância e alegria das pessoas que moram ali”. Em suma, um encontro fantástico.

 

 

No setor oposto, os dormitórios, banheiros e sala de TV também foram reposicionados e o jardim passou a sediar os escritórios com direito a uma copa compartilhada. Outra sacada importante da Play Arquitetura (nome do estúdio de Alvarenga) se deu ao manter alguns elementos originais da obra – vistos nas paredes de tijolos e de pedras –, para depois coordená-los com os tons abertos e atualíssimos do amarelo, na cozinha, e do azul, na sala de estar. Abaixo, vista externa da morada.

 

 

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