Tirando onda
Na praia urbana do casal Caru Magano e Guilherme Canho, uma casinha de vila dos anos 1950 cravada no coração da Pauliceia, a vida corre livre, leve e solta
Por Cynthia Garcia / Fotos Romulo Fialdini
A fotografia e o surfe fazem parte da vida do jovem casal paulista Caru Magano e Guilherme Canho. Ele, empresário, surfa desde os seis anos, tem até tatuagem feita por um guru de Samoa na técnica antiga com bambu e osso, quando foi surfar naquele paraíso. Ela, o nome à frente da Fauna Galeria, especializada em fotografia contemporânea, pega outras ondas. Quando não trabalha aos sábados, curte o fim de semana no Bonete, em Ilhabela, entretida com ioga, leitura e banho de cachoeira, enquanto seu gato se joga no mar. “O prefeito quer mudar o zoneamento da ilha para construir resorts, acredita?”, indigna-se a morena bonita e inteligente. Projetos que ameaçam nossa natureza se chocam com os valores holísticos de gente como eles, que abraçam um estilo de vida verde onde arte, cultura e sustentabilidade não são apenas modismos alternativos.
Caru vem da linhagem dos Magano, conhecida pela beleza morena de suas mulheres: “Minha avó Marlene continua linda”. A mãe, Helena, é sinônimo das artes de encadernação e de restauração em São Paulo. Patricia, a artista plástica da família, é autora, entre outras, de uma série de retratos em nanquim sobre kraft, como “Caru na espreguiçadeira” (2008), emoldurado na sala da sobrinha. “Eu estava pegando sol, ela fez num traço só”, diz sobre a agilidade matisseana da tia. Do lado paterno, é filha de Armando Prado, cultuado nome da vanguarda da fotografia brasileira, consultor da Fauna.
Enquanto não vem a casa que sonham construir com projeto do amigo arquiteto e surfista, Gui Mattos, nas proximidades do Parque do Ibirapuera, os dois vivem numa simpática casinha dos anos 1950 com exterior caiado com pigmento azul. Em 2007, quando a alugaram, Guilherme arquitetou ele mesmo a reforma: “Tinha até mato na piscina”. Com três varandinhas com trepadeiras, o piso superior guarda o escritório e a gostosa suíte do casal, fusão de dois cômodos. No térreo, o piso em parquê acomoda o social. O living exibe parte das coleções de fotografias e de máscaras étnicas, e uma jukebox Wurlitzer anos 1950, que toca hits surfistas como “I heard it through the grapevine”. A sala de jantar tem mesa herdada da fazenda da sogra sobre a qual pende par de luminárias em acrílico marmorizado da designer Maria Francisco, “minha boadrasta”, diz Caru. O lavabo é revestido em casca de coco e a cozinha tem charme tradicional. Nos fundos, o azul da caiação tinge o quintal com mobiliário de jardim, plantas, piscina e edícula de dois pisos com academia, depósito de surfe e quarto de hóspede. Tudo sob o faro atento de Preto, o vira-lata, e Fofa, a buldogue.
De manhã, ela cuida da casa e de si, caminha no parque, faz ioga. À tarde, na galeria fundada há três anos, que já soma 18 mostras no currículo, ela e equipe organizam cursos e exposições como a do fotógrafo Arnaldo Pappalardo e a coletiva montada na SP-Arte/Foto, em agosto último. No fim do dia, a jovem galerista enfrenta o trânsito paulistano rumo à Faap para mergulhar na pós-graduação em fotografia e finalizar a monografia. O tema? “O Trabalho que Venho Desenvolvendo na Fauna”, diz essa moça bonita que vai longe.