Projetos

Maria Bonita

 

Debutante no circuito dos interiores, Maria di Pace segue o legado da família ao atualizar o estilo clássico e sofisticado do clã, como fez nesse casarão paulistano com casca assinada pelo irmão, Raul

Por Allex Colontonio / Fotos Christian Maldonado / Stylist Chialin Chiang Make / Patricia Martinelli

Maria Bonita

Ela foi apresentada ao grand monde do décor na última edição da Mostra Black, ao projetar um home office impregnado pelo elegante DNA da linhagem di Pace, mas com twist de coisa nova no ar. Na quinta geração da tradicional família italiana de artistas, arquitetos e galeristas, filha do legendário Hugo di Pace (nome estelar do apogeu do décor brasuca entre as décadas de 60 e 70, “época em que o cliente só podia entrar na própria casa no dia da entrega do projeto, quando era recebido pelo decorador a bordo de uma flûte de champanhe”), Maria trilha agora a própria senda. Aos 30 anos, publicitária por formação e esteta por vocação, assume de vez o quinhão – e a prancheta – de seu legado.

Maria Bonita

“Após viver um tempo na Itália e outro na Suíça, e atuar em grandes agências daqui, comecei a trabalhar com o meu pai e meu irmão para coordenar o escritório, já que tinha dois gênios da arquitetura muito mais focados na criação do que no administrativo. Também havia estudado design e meus amigos me procuravam muito para fazer projetos. Foi a oportunidade para criar um novo braço da empresa, para um público mais jovem, com budget mais específico, interessado em projetos únicos e especiais”, conta Maria.

Maria Bonita

Esse casarão, de quase 1.200 metros quadrados só de área construída no Morumbi, São Paulo, é um dos frutos da parceria fraterna. O volume arquitetônico seco de concreto armado rasgado por grandes planos de vidro que descortinam a vista do Jockey Club de São Paulo, com espaços fluidos e superdimensionados, tem a elegância cara aos di Pace, aqui materializada pelo irmão mais velho de Maria, Raul. “Nossos trabalhos se complementam muito bem”, diz ela.

Maria Bonita

Distribuída em três grandes pavimentos, a morada se apropria das formas orgânicas do lote em declive para tirar partido da paisagem mezzo urbana, mezzo arborizada típica do bairro. A hierarquia é elementar: garagem e serviços funcionam na cota mais baixa; estar e convivência no piso intermediário; domínios privativos no piso superior – com direito a loft-solário no topo, tudo acessado pelos lances de escada de mármore travertino ou pelo elevador. “O projeto do Raul é um exemplo de discrição. Contido entre singelos muros, não revela o mínimo conteúdo que protege. Nesse jogo do que mostrar e esconder, o vidro, utilizado substancialmente como elemento de fechamento, é um material-chave que apenas insinua os limites entre as áreas internas e externas”, explica Maria, que usou e abusou desse grande vão livre da área social e da quase indistinção entre dentro e fora para desfilar seu décor chic com mistura fina de design e antiguidades. “Trabalho muito com o instinto. Meu estilo pode ser classificado como um contemporâneo-modernista-romântico”, diz.

Maria Bonita

Móveis brasileiros dos anos 1950 e 1960, peças da melhor produção escandinava contemporânea, o mobiliário moderninho de fibras da alemã Dedon e arte de primeira pinçada nas boas galerias do circuito, imprimem a escola cool da herdeira. “Amo fotografia e indico aos meus clientes por ser uma arte talvez um pouco mais acessível. Também acho importante valorizar o artista brasileiro e apostei em nomes como Florian Raiss, Zé Bezerra, Zé Bento, Akira Cravo e Tripolli”, conta sobre as cerejas do bolo do imenso saguão quase sem paredes onde hall, living, escritório e sala de jantar acontecem simultâneamente, desembocando no jardim com piscina encaixada no deque praticamente dependurado sobre o skyline da cidade – lindo de ver.

Maria Bonita

Olhando de longe, comparar o trabalho de Maria ao do pai e ao do irmão é inevitável. De perto, fica clara a personalidade da menina bonita que flana com desenvoltura pelo ofício que acaba de abraçar. “Cresci respirando o trabalho dele. Meu pai sempre nos levou às obras, nos fazia participar muito e sempre colecionou arte. Absorvi sua maneira de garimpar objetos, de usar peças que tenham história, que sejam únicas e que provoquem impacto em quem entra no ambiente, além de sempre ter o cliente como protagonista dos projetos. Adaptei esse conceito ao meu estilo, que é bem diferente do dele”. Maria, a menina bonita que respira os ares do high-décor desde o berço, pede passagem.

Maria Bonita

Frase:

“Absorvi do meu pai a maneira de garimpar objetos com história, peças que provoquem impacto em quem entra no ambiente. Adaptei esse conceito ao meu estilo, que é bem diferente do dele”

Maria Bonita

Tecto

Milhares de produtos e ideias para seus projetos

Projetos para sua inspiração

Revistas

Kaza Ed. 170 Kaza Ed. 169 Kaza Ed. 168 Kaza Ed. 167 Kaza Ed. 159 - Out - Nov/16