Projetos

Poesia Concreta

 

No rooftop do edifício modernista que tenta arranhar os céus da cidade, o projeto assinado por Fabio Bruschini e Marina Linhares tem arte, design, drops culturais e arquitetura com perfume fashion

POR ALLEX COLONTONIO / FOTOS ROMULO FIALDINI / STYLING CHIALIN CHIANG / MAKE PATRICIA MARTINELLI

Poesia Concreta

A casa dos sonhos de Maria e Murilo foi praticamente uma ação entre amigos. Família antenada, jovem e bonita, de gente fina, elegante e sincera – como na canção –, eles encomendaram a Fabio Bruschini o projeto de seu dúplex. “Sou amigo de infância do Murilo e foi fácil interpretá-lo. Apesar de ser publicitário, ele sempre teve uma conexão com arquitetura e conversamos muito a respeito”, conta Bruschini. Sem falar na familiaridade com o endereço, frequentado desde a infância de ambos: “Tive muitos amigos nesse prédio e aprontamos muito por aqui”, conta. Olhando para os jardins traçados por Burle Marx com jeitão de paisagem lunar, onde volumes de caquinhos brotam como vulcões do chão, explodindo em bromélias, dá para imaginar o quanto a turma se divertia por ali. Bruschini fala com entusiasmo sobre o edifício moderno com shape brutalista que tem assinatura de Marcello Fragelli, profissional carioca bastante atuante entre as décadas de 60 e 80, reconhecido pelo tom industrial de seu esquadro. “Era um invólucro realmente especial, que quisemos valorizar bastante no projeto”, diz.

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Fabio colocou paredes abaixo, integrou áreas e “descascou” o apê, removendo todo o dry wall do fechamento para valorizar o pé-direito duplo, descortinando uma vista deslumbrante e injetando o máximo de luminosidade natural nas áreas sociais. Também desenhou uma escada escultural com guarda-corpo de vidro que conduz ao paraíso privé dos proprietários – no caso, o piso superior, que além de escritório, biblioteca e home theater, abriga piscina, varandas e uma fabulosa estação gourmet, capaz de despertar as aspirações a chef de qualquer indivíduo. “Maria e Murilo adoram cozinhar e recebem como ninguém. Precisavam de uma área à altura”, conta o arquiteto. Que manteve o concreto aparente do Fragelli que tanto admira, tomando partido de suas imperfeições aqui e acolá, como no caimento do teto da sala de TV, que encontra o grande painel de vidro e traz a cidade aos pés do observador.

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Como amigo do casal, Bruschini também participou de boa parte dos garimpos da dupla. Juntos, viajaram para os EUA e Europa e pinçaram o que havia de mais “fashion” no design, em sintonia com a antena dos donos do pedaço.

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Trouxeram um painel tridimensional dos irmãos Bouroullec, estofados de Paola Lenti, peças de Patricia Urquiola, lustres high-tech, lançamentos escandinavos e outros que tais, em efeito bem fresh e colorido.

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No arremate do décor, entrou em cena outra personagem – e amiga: Marina Linhares, uma grife arquitetônica na cena contemporânea. “Cheguei para dar uma ‘humanizada’ no projeto, adaptando tudo o que já existia ao novo contexto, considerando que se trata de uma família culta, com muitas referências e ótimo olhar”, conta a arquiteta. Além de organizar as obras de arte, como a linda tela de Abraham Palatnik, escalar os belos tapetes, almofadas, vasos e afins, Marina orquestrou novas situações de estar para “facilitar o fluxo da casa e o uso da família, considerando que eles têm uma vida social intensa no apartamento. O décor é meio mutante para se adaptar às diferentes situações e acomodar quem chega”, conta. Também desenhou boa parte da marcenaria, como o impecável aparador da sala de jantar, a estante da biblioteca, os móveis do escritório e tingiu a caixa do hall de entrada de azul “bic” – a cor da moda, segundo os italianos.

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Num cantinho no fim da sala de estar, Marina plantou uma coffee table, que é praticamente um mirante para a cidade que corre quase 12 andares lá embaixo. Enfim, a poesia concreta. De dentro pra fora e de fora pra dentro.

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Frase:

“Considerando que eles têm uma vida social intensa no apartamento, o décor é meio mutante para se adaptar às diferentes situações e acomodar quem chega”

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