GEOMETRIA NATURAL
Caixa mágica de frente para o mar, na Praia da Feiticeira, em Ilhabela
POR LUIZ CLAUDIO RODRIGUES | FOTOS PEDRO VANNUCCHI
Que a arquitetura de legado modernista, com volumes retos e traços minimalistas, é uma característica do Studio mk27, com raízes mais do que urbanas, ninguém duvida. Mas levar essa mesma linguagem radical contemporânea para a praia e admitir que combina com a atmosfera de férias, relax e pé na areia, é uma surpresa. E das boas. A casa de Ilhabela – assinada por Marcio Kogan e sua equipe de arquitetos colaboradores – coautoria de Diana Radomysler e colaboração de Eduardo Chalabi – prova que bom desenho não tem espaço, nem fronteiras, faça chuva ou faça sol. Mesmo modernérrima até a última massa de concreto aparente, ela cumpre à risca um dos dogmas de Kogan e sua entourage: fazer uma arquitetura que emociona e que conquista as pessoas.
E a natureza agradece. Em especial a circulação natural do ar com o uso da esquadria de bambu para filtrar a luz no brise-soleil que faz as vezes de uma fina pele de madeira que reveste toda a fachada do segundo pavimento. Abertas, as janelas do tipo camarão oferecem a vista do mar. Fechadas, filtram os raios solares que se projetam pela casa e se desvanecem no piso como uma sombra quadriculada de um muxarabi. O quebra-sol preenche, de ponta a ponta, as fachadas e esconde as vigas de concreto que sustentam o vão de 10,5 metros.
De acordo com o estúdio, Marcio queria que a casa lembrasse uma caixa mágica. “Em nenhum momento se consegue perceber onde a casa se abre”, afirma o arquiteto. Essa é outra característica de seu trabalho. À primeira vista pode parecer que suas casas não têm janelas, mas com uma observação mais atenta percebe-se, com surpresa, que estão escondidas dentro das “caixas”. Na casa de Ilhabela, a mágica tem 40 painéis com 3,7 metros de altura e de 0,8 m a 1 metro de largura compostos por dois planos de réguas de bambu parafusados em uma estrutura de alumínio anodizado.
Como todo bom truque, seu desenvolvimento foi meticulosamente pensado durante quase um ano e exigiu o desenvolvimento de três protótipos. O efeito foi tão bom e tão adequado para uma casa de praia, que foi a primeira vez que o bambu foi especificado para um projeto do Studio mk27. Para o arquiteto, o material reflete o despojamento da região e o estilo de vida dos proprietários da casa que são ligados ao surfe e ao budismo. Para entendermos um pouco sobre o processo de criação coletivo do Studio mk27, a arquiteta Diana Radomysler nos diz que tudo começa pelo estudo de circulação, chega ao layout e daí para os materiais até a especificação dos móveis, texturas e tecidos. Por trás desse azeitado estúdio de invenções, o briefing do cliente permeia o planejamento dos arquitetos. “Para chegarmos ao resultado final precisamos sempre nos lembrar da primeira reunião com o cliente. Nesse primeiro contato descobrimos os sonhos de cada um, que geralmente são grandes, mas temos que acomodá-los dentro do espaço que é permitido.” Na casa de praia de Ilhabela o sonho deve ter sido completamente realizado. Explico: durante a noite os painéis de bambu são levemente retroiluminados pela luz artificial que vem dos ambientes, transformando a casa numa imensa lanterna japonesa. Coisa de mágicos!