PALAFITA NO PARAÍSO
Morada assinada por Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes paira sobre Itacaré, sul da Bahia
POR CYNTHIA GARCIA | FOTOS TUCA REINÉS
Uma das parcerias na arquitetura brasileira que mais rendeu casas espetaculares foi a de Claudio Bernardes e Paulo Jacobsen. Essa é uma das últimas antes do acidente, em 2001, que levou precocemente o filho de Sergio Bernardes. Da equipe de detalhamento e execução do projeto participou Thiago Bernardes, herdeiro de Claudio, hoje à frente do próprio escritório Bernardes Arquitetura, que diz que “essa casa resume todo um trabalho de arquitetura em busca da brasilidade”.
Pairando sobre Itacaré, sul da Bahia, o refúgio tropical implantado no morro mais alto de uma fazenda de um alqueire usufrui da panorâmica deslumbrante do entorno verde banhado pelo azul da enseada baiana. “O normal seria ter a casa perto do mar, mas nada se iguala a estar no meio da selva, vendo o mar lá de cima”, menciona Paulo Jacobsen, hoje no comando da Jacobsen Arquitetura. A estrutura suspensa sobre 24 toras de madeira se refere à palafita, construção nativa que existe no nosso continente desde tempos pré-colombianos. O partido adotado se justifica pelas limitações de material nessa região de difícil acesso, pelo uso da mão de obra local muitas vezes não especializada, mas principalmente pela total integração ao meio ambiente, fundamental para a arquitetura consciente.
Ilude-se quem pensa que proporções palacianas indicam um projeto sofisticado, já que tantas vezes as grandes dimensões escondem propostas superficiais. Outro ponto é não confundir projeto simples com projeto pobre de ideias. Aqui, a área construída é de 1.200 metros quadrados e o projeto é brilhantemente simples, ecoa referências a uma imemorial casa tribal com a simetria da magia que obedece aos quatro pontos cardeais. O posicionamento no alto do terreno e o fato de estar equilibrada sobre pilares transformam a casa em um mirante mimetizado na natureza. Distribuída em três módulos, ela possui um grande volume central e dois menores – o voltado para o norte abriga a suíte máster, o voltado para o sul, duas suítes. Cada um dos módulos menores se une ao central através de uma passarela de madeira suspensa, coberta, mas sem vidro, de 16 metros de comprimento.
No módulo central gravitam dois pavimentos. O superior acomoda a entrada, a cozinha, o bar e uma generosa área de estar sem divisórias – que inclui também as salas de jantar e de jogos – e o deque com piscina, único elemento em concreto dessa casa toda em madeira, que nem alvenaria tem. Acima das copas das árvores, o piso inferior abriga uma sala entre duas suítes. Além da ousada estrutura toda em encaixe de madeira, outro detalhe chama a atenção, é a fenda no telhado do módulo central que permite entrada e captação da chuva. Unindo os dois pisos e contornando a eventual “queda d’água” se desenvolve a escada dessa casa-varanda, uma ode ao requinte da rusticidade e ao respeito à natureza dadivosa da nossa terra brasilis.