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ONDE O RIO É MAIS RIO

 

Projetado pelo arquiteto Ivan Rezende, com estrutura, arte e design contemporâneos, o apartamento traduz o chic carioca em prosa, verso e volumes

POR CYNTHIA GARCIA / FOTOS DENILSON MACHADO / MCA

ONDE O RIO É MAIS RIO

"Brega é perguntar o que é chique. Chique é não responder", dizia um dos homens mais elegantes que o Brasil já viu, que viveu nessa região do Rio. O jornalista Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997) ou Zózimo, como os cariocas o conheciam de sua coluna social no Jornal do Brasil e depois em O Globo, sabia que esse quadrilátero com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas, a pista do Jockey Club, as palmeiras-imperiais do Jardim Botânico e ainda o Cristo Redentor ali pertinho, era um espaço mais que abençoado. No pedaço eleito pelo colunista, o conjunto de linhas puras e volumes brancos do projeto do arquiteto carioca Ivan Rezende transformou 316 metros quadrados em uma bem dimensionada cobertura de dois pavimentos. “Um grande terraço debruçado sobre esse cartão-postal foi o princípio que me norteou para que o jovem casal pudesse usufruir da beleza do entorno, seja qual for o percurso interno que façam”, é assim que o profissional descreve o conceito implantado. Os marcos sedutores da cidade foram enaltecidos pela sensibilidade de Rezende, que habilmente incorporou a vista ao interior, à maneira de um majestoso tableau vivant carioca.   

    

Pontuado por um décor com mobiliário contemporâneo e poucos, mas bons, nomes da nossa arte contemporânea do portfólio de artistas da galeria carioca Silvia Cintra, o projeto se desenvolve com elegância e funcionalidade. Com piso de tábua corrida de peroba-do-campo, o primeiro pavimento concentra salas íntima e de almoço, serviço e os três dormitórios: a suíte master e os dois quartos reservados às crianças. O andar superior é revestido com mármore travertino turco levigado no estar, sala de jantar e no terraço de 82 metros quadrados com churrasqueira, exceto pelo mosaico turquesa da italiana Bisazza que reveste a piscina de 9 metros e interrompe os tons neutros. O guarda-corpo do último pavimento, de vidro temperado, enfatiza a fluidez e a transparência que caracterizam esse projeto despojado, aparentemente simples.

Lembrando que sou carioca, não posso deixar passar um detalhe. Perto daqui fica a estátua de bronze do comunicador que cunhou a frase: "Na televisão, nada se cria, tudo se copia", Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha. Criada a partir do traço irreverente do cartunista Ique, mostra o apresentador de gravata borboleta, microfone na mão, a famosa buzina pendurada no pescoço e a peça de bacalhau que costumava jogar aos fãs na plateia. A homenagem fica no caminho que o zombeteiro fazia para ir ao antigo estúdio da TV Globo, no Teatro Fênix. Alguém muito sábio já disse que não se deve levar nada a sério. É essa combinação de beleza e bom gosto que vemos no projeto de Rezende e nas tiradas do Zózimo, cultivados com pitadas de irreverência do Chacrinha e do bom humor carioca, que faz o carisma da Cidade Maravilhosa.

 

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