CINE, ARTE, DÉCOR E OUTROS MARINADOS
Marina Person abre as portas de sua nova toca, onde música, literatura, cinema, artes plásticas e design se entrelaçam sem firulas e com muita personalidade
POR FLORA MONTEIRO | FOTOS MARCO ANTONIO
Segura de si, madura e bonitona, a mulher com jeito de menina e fala mansa, que conquistou espaço merecido – e bastante representativo – no cenário cultural televisivo e cinematográfico brasileiro mostra que, do alto de seus 40 e poucos (bem poucos) anos, ainda tem muito a criar, fazer e contribuir. Diretora de cinema, apresentadora, atriz, locutora de rádio, mulher de Gustavo Moura, adepta da meditação transcendental, praticante de pilates, ioga e natação, Marina Person não sabe explicar como faz para dar conta de tantos projetos. “Cada dia é um dia, divido os trabalhos pela semana, tiro o sábado e o domingo para mim. E assim vou levando”, diz ela, que comemora um ano de sucesso à frente do programa de entrevistas Metrópolis, da TV Cultura, segue com o recém- lançado “Marinando”, canal gourmet no YouTube no qual ensina receitas de pratos descomplicados, e já se prepara para as gravações da terceira temporada do bem-sucedido “O Papel da Vida”, do Canal Brasil, no qual bate-papo com atores e atrizes convidados – Glória Pires, Andrea Beltrão e Fernanda Torres vão ao ar em breve.
No cinema, ela dirige o filme “Califórnia”, e se apronta para atuar no “Voltando para Casa”, dirigido pelo marido e com filmagem prevista para maio. “Vou ser a esposa do protagonista. É uma personagem suicida, então é bastante complicado. Estudei muito, fiz aula de voz, de corpo e de dança”, conta. O timbre e o roteiro por trás dos boletins diários sobre música e cinema da rádio Eldorado também são dela. “Nem me lembre do Cine Drops. Estou superatrasada com a entrega.” É nesse apartamento recheado de bossa, arte e poesia, no sétimo andar de um prédio em Higienópolis, que ela passa a maior parte do tempo, trabalhando na mesa do escritório ou proseando com os amigos e com a família na bancada da cozinha.
Durante as quatro horas em que invadimos o dia a dia de Marina, ela chegou da rua, almoçou em 15 minutos com o marido, arrumou-se, atendeu a equipe de filmagem do site da Trip e se voltou para nós. Abrindo um sorriso a cada três palavras, revelou a história de cada cantinho da morada e posou para o fotógrafo ao lado do cãozinho Cacau. “Compramos o apartamento há um ano e durante oito meses ele ficou imerso na reforma. A fase de arrumação foi tão trabalhosa que não vou ter coragem de me mudar nunca mais”, brinca. O projeto foi feito a quatro mãos: apesar de não exercer a profissão, Gustavo é formado em Arquitetura pela USP e convocou o amigo de faculdade Cesar Shundi Iwamizu, do escritório SIAA, para ajudá-lo – colaborou também o arquiteto Andrei Barbosa. “Queríamos uma casa onde áreas de serviço e social fossem integradas, já que amamos receber e cozinhar”, explica o anfitrião. Sem nenhuma viga de sustentação ou parede, sala, cozinha, escritório e quartos dão as mãos ao redor de uma enorme estante de madeira, que acolhe, de um lado, uma coleção sem–fim de livros e, do outro, louças, bebidas e panelas. O piso de taco perfaz quase que por completo os 230 metros quadrados do apê, contribuindo para a sensação de fluidez entre os cômodos. CDs, vinis e arte são onipresentes no composé de mobiliário. “Colocamos a vitrola para rodar todos os dias e temos uma relação afetiva com as peças de design, quadros e esculturas”, explica Person.
As obras de Cildo Meireles simbolizam mais que um agradecimento por parte do artista pelo documentário “Cildo”, dirigido por Gustavo. Nuno Ramos, Tatiana Blass e Carlito Carvalhosa também deixaram o carinho e a amizade registrados na forma de obras para o casal, que guarda ainda fotografias de Pierre Verger e Cássio Vasconcellos. Dando as boas-vindas a todos que entram no refúgio e voltadas para a enorme janela através da qual o apartamento conversa cara a cara com o icônico Edifício Louveira, de Vilanova Artigas, estão o par de poltronas Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha, a luminária de teto de Philippe Starck e as cadeiras de Charles Eames. Olhando ao redor, satisfeita com tudo que conquistou e se mostrando pouco saudosista em relação à infância num sítio, Marina arremata: “Apesar do trânsito, da poluição e do estresse, gosto muito de viver aqui. Em que outro lugar poderia ir a uma sala de concerto como a São Paulo para ver Nelson Freire tocar? Programa perfeito para uma noite de quarta-feira”, arremata. E assim é o “apê Marina quando acende” – parafraseando a canção de sua xará Marina Lima.