Work in progress
Da reforma de um edifício de três andares surgiu uma residência ampla – misto de casa e loft
Por Jhoni Anderson | Fotos Fran Parente
A residência de 150 metros quadrados desta matéria está em constante transformação. Para entender melhor se faz necessário retroceder ao ano de 1989, quando a coreógrafa paranaense Andrea Lerner e um grupo de amigas trocaram o Brasil pelos Estados Unidos. Andrea morou no West e no East Village, bairros da Big Apple. Já casada com o artista plástico holandês Sebastiaan Bremer e agora com dois filhos (Tobias, 12 e Sophie,10), nos últimos 10 anos, a família morou em Williamsburg, em um apartamento de 70 metros. “Estávamos enlouquecendo, o endereço era simpático, mas pequeno, porém não queríamos nenhum dos edifícios enormes e descaracterizados que estavam sendo construídos no bairro”, diz Andrea. “Começamos a procura porque queríamos um espaço com 3 dormitórios, o que é bem difícil e caro aqui em NY. Quando vimos esse prédio, ele ainda era todo revestido com placas de alumínio, mas as dimensões eram ótimas, e havia a possibilidade de haver boas surpresas por trás da fachada” relembra. Quando finalmente compraram, descobriram debaixo do alumínio um prédio de tijolinhos bastante charmoso. “A demolição foi o momento mais interessante, porque fomos entendendo o prédio que tínhamos comprado: uma construção de três andares para famílias de trabalhadores imigrantes, onde nada havia mudado desde 1940: teto baixo, revestimentos horríveis nas paredes e no chão. Descascamos tudo até chegar na carcaça”. confirma Andrea. A reforma foi feita no melhor estilo “Work in progress”; ou seja, não está pronta ainda, as mudanças foram e são feitas com a família já morando no local. Filha do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, Andrea mostrou ao pai a primeira planta traçada pelo marido. Com know-how de sobra, Lerner pai fez algumas modificações, sugeriu outras e foi até Nova York acompanhar as reformas, gerenciadas pelo arquiteto americano Harry Simino. Um ano depois, a casa está bem encaminhada e cheia de personalidade, com ares contemporâneos, no melhor estilo new yorker, com janelões que descortinam a vista de Manhattan.
Daqui pra frente, Andrea pretende vencer o receio e adicionar mais cor à casa. Um amigo recomendou a pintura das vigas aparentes em madeira na cor preta, e a pintura da escada original, que leva para o terraço, em vermelho. “Os ambientes ficaram mais gráficos e modernos”, diz a dona da casa.
Como todo bom holandês, Bremer também é apaixonado por flores. É ele quem cuida do jardim coletivo da casa, localizado no primeiro andar e cujo espaço está locado para um casal de amigos. A outra área externa é o terraço, erguido no último andar, mas que, devido ao frio intenso do inverno nova-iorquino, com neve e temperaturas abaixo de zero em 2014, só poderá ser desfrutado a partir da próxima meia-estação. “O Sebastiaan acha que nossa casa lembra a dele da Holanda, e eu a casa dos meus pais no Brasil”, diz Andrea. É o casamento dessas referências que predomina no novo endereço. Hoje, a mistura de estilos como o escandinavo e o modernista brasileiro apresentam o layout do décor. Obras de Liza May Post, Inez Van Lansweerde and Vinoodh Matadin, Richard Phillips, Janaina Tschape, Gerben Moulder, Vik Muniz, Yenez, David Hocney, Jens Frange, Roxy Paige e do próprio Sebastiaan Bremer destacam-se na ambientação.
E é dessa forma que Andrea vai levando seu novo endereço, sem se prender ao estabelecido e aberta às novidades, resumindo o work in progress da família Lerner Bremer: “Tudo pode estar de um jeito agora, mas pode ser transformado amanhã”, arremata.