Levada da maré
Jovens arquitetos baianos criam ambientes únicos que transformam o mar em casa aconchegante no litoral paulista
Por Ana Pinho | Fotos Pedro Setubal
Um pé na areia e outro no design. É esse o resultado do trabalho dos baianos Arthur Athayde e Marcelo Borges, da MA Interior Design, criadores da bela casa de praia que você vê nessas páginas, com mistura fina à moda de grandes mestres, como Sig Bergamin. “A ideia era levar a alegria e o despojamento baianos sem perder o requinte e o charme necessários para um empreendimento desse nível”, resume a dupla.
Após conquistarem os proprietários com a entrega de um apartamento em Salvador e um hotel no litoral paulista, o duo, que trabalha principalmente no eixo Bahia-Rio-SP, ganhou deles um novo projeto: transformar a casa de praia da família, um espaço nababesco de nada menos que 3 mil metros quadrados nos arredores de Caraguatatuba.
A carta branca para a reforma tinha apenas uma condição: criar uma atmosfera única para cada um dos ambientes do refúgio caiçara. Os dois levaram a sério: “Cada detalhe é único, como se houvesse aqui uma mostra de decoração”. Além de 15 suítes, o lugar conta com living, sala de jantar, spa, sauna, academia, varandas, cinema, sala de lareira, escritório, deque e até gazebos. Os arquitetos resolveram se inspirar na vida da própria família, liderada por um empresário do ramo de hipermercados apaixonado por viagens. “Apesar do poder aquisitivo, ele é a simplicidade em pessoa, e queríamos lhe fazer uma homenagem”, explicam.
O proprietário já havia testado as águas da indústria de hospitalidade com a construção de um hotel no Rio Amazonas, e essa história serviu de ponto de partida para o próprio décor. “Elegemos o home íntimo para trazer a Amazônia para dentro da casa, através de imagens, texturas, cores e referências.”
É ali que está um cocar original da tribo caiapó, emoldurado ao lado de fotografias de maravilhas naturais e acima do sofá dos designers Flavio Borsato e Maurício Lamosa. No chão, um dos vários tapetes de Alfredo Oliveira espalhados pela casa dá o toque final. É outra criação de Oliveira, imitando escamas de peixe, que ganha destaque no living, um dos ambientes mais espetaculares. O espaço arejado é feito em refrescantes tons de branco e azul, dueto que permeia a casa inteira – cores do mar e, por que não, a Bahia das cores de Iemanjá.
Atrás do sofá de Antonio Citterio e da bela chaise de madeira de Gustavo Martinez está o mar em si, três vezes um horizonte entrecortado por molduras de madeira clara.
Numa transição sem esforços, ali do lado respira o oceano de verdade. “A paisagem local é o ponto alto do projeto, e buscamos uma integração visual permanente através de elementos que remetem ao clima tropical”, diz a dupla.
No spa, que também tem vista para o mar, o destaque é o belo lustre. Quarenta e dois papagaios, feitos à mão e devidamente emperiquitados sobre a estrutura de bronze, fazem companhia à enorme banheira para doze pessoas.
Ao relembrar o início do projeto, Arthur e Marcelo gostam de pensar de maneira poética. “O esqueleto da casa já estava pronto”, dizem, mencionando poucas mudanças estruturais. “Era antes uma tela branca à procura do artista para pintá-la.”
