Minimalismo ancestral
Com vista para a Sierra Las Mitras, em Monterrey, no México, a casa projetada pelo genial Tadao Ando é uma aula de equilíbrio, contenção e emoção
Por Cynthia Garcia | Fotos © E.Sumner/Photofoyer
Em 2010, então à frente de outra publicação, Allex Colontonio convidou-me para entrevistar o arquiteto japonês Tadao Ando (1941), ganhador do Pritzker de 1995, o equivalente ao Oscar no mundo da arquitetura. Uma honra, afinal é o maior arquiteto vivo desse país-arquipélago, admirado por sua estética minimalista ancestral, que coloca a arquitetura japonesa adiante de todas as outras, que só assimilaram as linhas e os volumes desprovidos de adorno na década de 1920, com os ensinamentos do arquiteto Le Corbusier (1887-1965). Ele me contou que em sua primeira viagem à França, em 1965, a visita que fez à capela de Ronchamp, marco da arquitetura modernista, projetada dez anos antes pelo mestre franco-suíço, foi transformadora: “A experiência forjou o meu conceito sobre arquitetura”.
Uma das características mais incensadas desse discreto artesão da arquitetura é a aura de templo que transmitem seus espaços puristas. Construída em concreto armado de sofisticação handmade, sua arquitetura em cinza de textura sedosa é ora surpreendida por um volume inusitado, ora arrebatada por uma parede em ângulo, ora cortada por uma fenda de onde jorra luz natural de beleza dramática. Seduzido pela placidez arquitetural do mestre japonês, outro mestre, mas da moda, o milanês Giorgio Armani, convidou-o para projetar o seu QG em Milão.
Da colaboração entre os dois maiores minimalistas do Oriente e do Ocidente surgiu o Teatro Armani, em 2001, que abriga o escritório central do império Armani, áreas expositivas e um teatro para os desfiles da grife. Mas não só isso, o inovador espaço multiuso para manifestações criativas tornou-se um marco de união da moda e da arquitetura. Estas páginas exibem o primeiro projeto assinado por Ando na América Latina, em Monterrey, no México.
Aqui, a grande parede com estantes da biblioteca é o elemento que norteia esse lar sem televisão nem computador, de Alberto e Alejandra Fernández, família de amantes da leitura, com três filhos. Para reproduzir a maciez do concreto e a perfeição exigida por Ando, dois técnicos despachados do Japão conduziram a obra de 1.500 metros quadrados, que durou três anos. O andar superior, onde está a entrada, é mais formal, inclui o hall, uma galeria de arte e o quarto de hóspedes.
O inferior concentra a ala das crianças, sala de jantar integrada à cozinha, living, adega, sala de ginástica e o apartamento do casal, próximo à piscina de borda infinita com vista para a Sierra Las Mitras. O resultado foi tão feliz que ganhou um importante desdobramento cultural. A família de Alberto, grandes empresários locais, patrocinou a construção do Centro Roberto Garza Sada de Arte, Arquitetura e Design na universidade de Monterrey, inaugurado em 2012, projeto de Tadao Ando. O México agora possui dois marcos assinados pelo mestre do minimalismo contemporâneo.