Alinhamento zodiacal
Originalmente brasileira, morada paulistana do fotógrafo Gabriel Wickbold por Guilherme Torres
Por André Rodrigues | Fotos Denilson Machado ¬MCA Estúdio
O ponto crítico na relação entre morador e arquiteto está no gosto pessoal de cada um. Conciliar a visão afetiva de quem vai habitar uma casa com o olhar, muitas vezes cartesiano, do profissional da arquitetura pode ser desafiador. Mas, aqui, essas regras não fazem muito sentido: “O Guilherme Torres transparece modernidade, e eu também. Temos muitas referências em comum, uma abordagem estética agressiva, mas que também é minimalista”, explica Gabriel Wickbold, dono desses raríssimos 400 metros quadrados que têm o Parque do Ibirapuera, um dos cartões-postais de São Paulo, praticamente como quintal. “Sempre defendi o aspecto autoral do trabalho, e o Guilherme também é assim. E somos ambos virginianos, práticos, resolvemos tudo de um jeito objetivo”, relembra sobre a reforma que durou cerca de seis meses para ser finalizada. “Três meses em obra, outros três acertando os detalhes”, reforça o fotógrafo que antes de bater a casa dos 30 já se tornou um dos nomes mais respeitados do circuito por meio de seus retratos puramente autorais, ousados, como a série “Sexual Colors”, em que personagens recebem splashes de tinta na cara e no corpo enquanto o drama é capturado pelas lentes cirúrgicas de Wickbold. “Estou montando uma exposição com 40 retratos dessa série. Escolhi o caminho mais maduro dentro do que produzi – foram mais de 150 ensaios ao longo de seis anos. A mostra vai começar em Porto Alegre, depois vem para São Paulo e Rio de Janeiro”, conta, orgulhoso.
No living da residência, chama atenção um desses retratos em que a apresentadora Didi Wagner aparece totalmente anônima, nua e banhada em tinta verde. “Eu troco esses retratos o tempo todo, gosto de mudar a decoração da casa, curto a metamorfose do espaço”, explica sobre as fotos que habitam praticamente todas as paredes revestidas em um tom escuro de cinza (“Quando comprei aqui, era tudo amarelinho, meio Provençal, parecia uma casa de bonecas. O cinza escuro, ideia do Guilherme, veio para neutralizar, e é também uma das minhas cores favoritas”). Além das dezenas de retratos autorais, fotos de Felipe Morozini e obras do grafiteiro Apolo Torres dividem o espaço, turbinando o aspecto já naturalmente cool dos ambientes. “Existem duas peças que são bastante importantes aqui: o sofá e a mesa de jantar, ambos desenhados pelo Guilherme Torres”, revela.
Com três quartos, a casa apresenta ambientes em formato quadrangular, bastante amplos, com uma piscina nos fundos aberta para a sala de jantar e living com lareira.
O décor é essencialmente brasileiro. Além das peças assinadas por Torres, faz mistura fina de peças da produção vintage nacional da melhor qualidade, como os bancos, cadeiras, biombo, banqueta industrial e cerâmicas surrealistas garimpadas na Loja do Teo. Sobre a mesa Jet assinada por Gui Torres, a luminária de cobre e vidro salta aos olhos: “É uma peça única, que eu mesmo desenhei. Já havia criado no passado uma série de luminárias. O tema me interessa muito, está ligado diretamente ao meu trabalho como fotógrafo. Sou fascinado por luz. Mas criar design é uma coisa complexa. E, assim como fotografia, não dá para ser aventureiro”, finaliza.