Concertos campestres
Em Araras, região serrana do Rio, David Bastos coreografou as linhas arquitetônicas dessa casa de veraneio em sintonia fina com a paisagem
Por Allex Colontonio | Fotos Tuca Reinés
Já faz algum tempo que David Bastos, um dos mais expressivos arquitetos desses Brasis, não é associado apenas a casas paradisíacas de praia – a grande bandeira de seu trabalho, hasteada por um número sem-fim de clientes felizes à sombra de seus ombrellones à beira-mar. Em matéria de projetos deslumbrantes, de dentro pra fora e de fora pra dentro, esse baiano cheio de borogodó tropical e ginga cosmopolita assina desde apartamentos nas grandes metrópoles a ambientes badalados nas maiores mostras de décor do Brasil. E manda tão bem quanto ao trocar a brisa das enseadas pelos ares das montanhas. “O projeto precisa estar sempre integrado com o entorno e implantado de acordo com as variantes de cada região, seja ela qual for”, diz ele.
Essa morada campestre em Araras, região serrana do Rio, é uma ode ànatureza. Mais do que isso, faz uma releitura das tradicionais casas de montanha que quase mimetizam na paisagem com suas estruturas de madeira e telhadinhos de duas águas. Com volumes geométricos puros, ora livres, ora sobrepostos, e grandes planos rasgados para o horizonte (tudo em concreto pintado de branco), o casarão de veraneio de mais de mil metros quadrados de área construída é do tamanho ideal da família – jovem casal com filho de 20 anos – que adora receber ali (embora pareça isolado do resto da civilização, o lote fica dentro de um condomínio fechado, onde parentes e amigos também possuem casas e existe a tradição de “se frequentar”, além das festas animadas para os bons camaradas que chegam de fora).
Nesse compasso, as vigas e os planos abertos parecem se organizer como uma moldura viva do entorno, algumas vezes estabelecendo limites dúbios entre dentro e fora e se estendendo em marquises e deques que são quase um trampolim para o landscape. “A ideia foi buscar uma integração marcante com o exterior, permitindo que a paisagem embarcasse na construção, buscando abertura máxima dos vãos”, continua David.
Nos interiores, reina a mistura fina característica do arquiteto. “O cliente já possuía algumas peças importantes, como a poltrona Mole, de Sergio Rodrigues. Entramos com a mobília italiana e alguns garimpos de demolição. Entre as obras de arte, o díptico da artista lituana ZilvinasKempinas, feito com mdf, prego, poliéster e resina, é um trabalho espetacular”, finaliza.
Emendando no céu, a piscina de borda infinita revestida com pastilha verde aproveita o desnível do terreno para desaparecer no cenário. Abaixo dela, foram alocadas as baias dos cavalos da família.
Enfim, a vibe rural dos novos tempos, na leitura de um arquiteto que, faça chuva ou faça sol, na praia, no campo ou na paisagem urbana, sempre acerta o ritmo.