Coté rural
Estrela máxima do décor no Brasil, Sig Bergamin, menino do interior que rodou o mundo e trouxe um pouco de tudo na bagagem, é cosmopolita até na hora de desfilar seu country side
Por Allex Colontonio | Fotos Fotos Romulo Fialdini
A originalidade sobrevive ao tempo, às tendências e às voltas que o mundo dá. Algum tempo atrás, quando estava à frente de outra publicação, fui com Romulo Fialdini (nosso fotógrafo favorito) ao pied-à-terre campestre de Sig Bergamin, uma casa tipo chalé montanhês, um pouco pra lá de Itapecerica da Serra, São Paulo. Mesmo para aqueles que, como eu, estão habituados à mistura fina sempre elegante do Sig, o lugar consegue surpreender por vários motivos. O mais latente deles, a capacidade que o esteta tem de converter o ordinário em extraordinário, de mixar peças valiosas e arte de primeira com garimpos inusitados de mercados de pulgas e afins. “Não tenho problemas em misturar um trabalho do Vik Muniz com uma pintura comprada numa feirinha e com alguma interferência pessoal, como um balangandã pendurado na orelha do retrato ou uma moldura diferente. O que mais me interessa é o valor emocional e não as cotações da Art Basel”, conta.
Galpão totalmente aberto, com pé-direito altíssimo e um mezanino que abriga o quarto, a casa lembra um celeiro inglês do lado de fora e um nakedcake do lado de dentro. Nas paredes internas, alterna tijolinhos com cimento à vista, tal e qual o recheio de um bem-casado.
Sobre essas bases nuas, entram muitos pôsteres, chinoiseries, gravuras, tapeçarias, fotografias e pinturas – tudo junto e misturado, conversando entre si, nas mais diferentes linguagens plásticas. Budas, livros, ânforas, muranos, gardenseats e muitas cestarias se espalham pelos móveis e pelo chão. Lamparinas marroquinas e tailandesas pendem do teto. Tem de tudo um pouco e um pouco de tudo, em efeito explicitamente maximalista, sem poupar espaço, mas sem comprometer a circulação.
Feito um loft, todos os cenários acontecem ao mesmo tempo: living, sala de jantar e cozinha: com fogão a lenha, é claro. E muita lenha para queimar em noites regadas a vinhos e pesquisas. “Nada melhor para recarregar as baterias”, diz Sig.
Na lareira, mais quadros pendurados, enquanto um patchwork de tecidos e mantas passeia pela casa, vestindo algumas superfícies e convidando as pessoas a se jogarem no sofá. O jeito Sig de ser e estar, sem cerimônias.
Na varanda, mais um pulo do gato, dos muitos que a gente reconhece em seu portfólio: em vez de cortinas ou fechamentos de vidro, o arquiteto pendurou lonas de caminhão estonadas, com resultado originalíssimo.
Há algum tempo ele se desfez de seu oásis no mato, mas promete novidades para breve. Enquanto procura outro chalé para assentar seu mood campestre (devidamente armazenado em dois depósitos), a gente vai se inspirando nas fotos que ilustram essas páginas com a bossa da terra.
“Eu quero uma casa no campo, como a Elis cantava naquela música. Mas um campo organizado, sem isolamento, nada monumental, daquelas que você precisa ter 15 seguranças e 20 cães de guarda. Gosto de ver minhas cachorras correndo livres e felizes, na paz, sem medo. De colher as flores do jardim e arranjá-las em garrafas de leite. De ler na varanda e de pegar a fruta no pomar”, finaliza.