Projetos

A Caixa Azul

Na reforma do apartamento paulistano, jogo de texturas e mobília brasilianista orquestrados por Guilherme Torres fazem o clima cosy com as copas das árvores que praticamente invadem o living

Por Allex Colontonio| Fotos Alain Brugier

 

Na reforma do apartamento paulistano, jogo de texturas e mobília brasilianista orquestrados por Guilherme Torres fazem o clima cosy com as copas das árvores que praticamente invadem o living

Tamanho não era problema neste apartamento no bairro do Morumbi, São Paulo – onde os empreendimentos imobiliários de alto padrão vendem feito Coca-Cola no deserto. Um copo cheio para Guilherme Torres, o arquiteto-emblema de sua geração, fazer transbordar um estilo neobrasilianistaque é cara do lifestyle cosmopolita dos moradores – uma executiva antenada, mineira radicada em SP, que passou parte da vida morando em Nova York, e suas duas filhas adolescentes – o terceiro, o mais velho, já bateu asas e mora sozinho. “A ideia foi mixar um certo aconchego rústico, quase interiorano, com uma pegada mais industrial, que faz a cabeça deles”, conta o arquiteto. “Uma espécie de conexão entre as Minas Gerais e a Big Apple”, brinca.

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Na prática, a única mudança estrutural realmente significativa no espaço de mais de 240 metros quadrados foi a substituição da caixilharia e das esquadrias, que incorporou a varanda ao living e plantou um imenso painel de vidro na sala, apropriando-sedo pé-direito duplo para fazer um arremate cênico um tanto quanto inusitado para uma morada tão urbana. Além de luminosidade natural absurda, as árvores parecem querer invadir o ambiente – o apê está no segundo andar, exatamente no nível das copas plantadas nos jardins do prédio, e de frente para o Parque Burle Marx, pulmão verde da região. “Descortinamos esse superview estrategicamente”, continua Torres. Enquanto isso, do lado de dentro, para compensar um pouco a falta de filtro e o excesso de luz, bases um pouco mais “escurinhas” deixam o clima incrivelmente acolhedor, caso do piso de demolição e das paredes revestidas com tijolinhos ingleses da Palimanan. “Os grandes pendentes que caem do teto proporcionam uma luz mais intimista e evocam ainda mais a Nova York da moradora”.

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E o tabuleiro de texturas encontra sua ousadia máxima com a caixa azul (cortada em marcenaria impecável) que se projeta do hall de entrada como um elemento escultóricoimpactante, que ainda camufla asportas de entrada, do lavabo, da circulaçãoíntima e da copa – que recebeu ladrilho hidráulico, como nas casas de antigamente.

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O mobiliário, simples e chic, é moderno, com pitadas vintage. Mistura poltronas sessentistas de Sergio Rodrigues, do Liceu de Artes e Ofícios, EeroSaarinen, cadeiras Hans Wegner com estantes e mesinhas industriais, objetos de garimpo, cerâmicas de estilo e tapetes kilim. Pelas paredes, obras de Geraldo Marcolini, Bruno Kurru e James Kudo reforçam um discurso plástico atual e original, mas sem sotaques, que poderia estar em qualquer lugar do mundo.

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Mas ainda em relação a esse acervo prestigiado, a cereja do bolo, entretanto, saiu do baú da própria moradora. O retrato pintado por sua mãe, a artista plástica e performer mineira Terezinha Soares, que teve grande visibilidade, sobretudo, nos anos 1960 e 1970. Uma dose de vanguarda que tem tudo a ver com o projeto, com seu autor e com a dona do pedaço.

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