O que Mies van der Rohe diria a Hess
Completamente reformulado, apartamento com planta original dos anos 1970 ganha nova configuração com racionalismo geométrico e muita sutileza estética pelas mãos de Felipe Hess
Por Flávio Nogueira |Fotos Ricardo Bassetti
Quem compreende a arquitetura ao entrar num projeto desenhado por Felipe Hess percebe que, embora jovem, a sensibilidade veterana de suas pranchetas é impecável, carregada de boas referências e de originalidade. Dândi moderno e muito culto, são nítidos em seus traços os olhares de papas como Isay Weinfeld, de quem foi pupilo durante quatro anos, Vincent Van Duysen e John Pawson, entre outros minimalistas. Ao adentrar num layout desenvolvido por ele é exatamente essa inteligência que se intui. Cravado no quadrilátero mais famoso dos Jardins, em São Paulo, o apartamento de 200 metros quadrados está instalado em um edifício modernista da década de 70, propriedade de um casal de advogados do Recife que resolveu abrigar seu QG por essas bandas.
Quando Hess chegou lá, a planta era original e ele decidiu por um extreme makeover. “Foi quase um ano de obra. Aqui o pé-direito tinha 3 metros, rebaixamos para 2,25 metros, para dar uma unidade e proporções harmônicas. Na área social a revolução foi mais intensa, colocamos até um lavabo que não existia, mudamos toda a hidráulica e a distribuição”, explica.
Quando falamos dessa “lição” arquitetônica é porque saboreamos tanto a flexibilidade como o uso de conceitos e acabamentos que dão sentido de sequência no traçado. O corredor que leva para a área íntima, por exemplo, é bem limpo e apresenta bem as consonâncias dessas linhas. E isso marcha também na curadoria dos mobiliários que formam a ambientação. “Toda a marcenaria fixa foi desenhada por mim, na composição da decoração, e eu os acompanhei na compra das peças nas lojas daqui de São Paulo.
Garimpamos no TEO, na Decameron e na Dpot. Outros acessórios com minha orientação eles trouxeram de fora, como a banqueta Bassam Fellows, que veio dos Estados Unidos, e algumas são do acervo pessoal, como o aparador de estilo barroco que contracena com as quatro gravuras do surrealista Salvador Dalí e obras de Paulo Monteiro”, conta.
“Adoro esse projeto, fico muito feliz com a harmonia que ele traduz como ocupação do espaço. Acho que o desenho, as linhas da marcenaria e a seleção dos móveis são perfeitas. E toda a vez que ouço meus clientes, que hoje são bons amigos, me dizendo que adoram ficar em casa, fico extremamente satisfeito, afinal, é a prova que o resultado foi maravilhoso”, finaliza. E a gente superconcorda. Mies van der Rohe teria bons diálogos com ele, afinal, Hess, assim como o mestre bauhausiano, deixou a marca de uma arquitetura que prima pelo raciocínio, pela utilização de uma geometria clara e que esbanja sofisticação.