Kaza abre alas para os principais expoentes da última geração do design brasileiro. Caçula da galera, Hugo Sigaud Neto, 19 anos, conta um pouco sobre o trabalho de cada um deles
Arquitetura, Design e Arte constituem importantes ferramentas de expressão que retratam as pessoas, seus hábitos, seu tempo. Foi desta observação que surgiu minha vontade de desenhar. E não há melhor lugar do que São Paulo, caótico palco multicultural, para desenvolver essa percepção. Minha coleção Privilège, lançada em agosto, fala exatamente sobre esse processo: é uma inversão provocada pelo olhar externo. É trazer um objeto banal e improvisado por trabalhadores da construção civil – o banquinho de obra – e transformá-lo em peça assinada, com detalhes atenciosos de acabamento e encaixes simples, sem a necessidade de cola ou pregos, acentuando sua veia artesanal. Já a série Se explora por meio de estantes modulares a possibilidade do usuário agir como co-designer (veja o efeito na página final desta edição). Hoje o design não apresenta mais um ato construtivo ou decorativo, mas uma forma de se comunicar. E o resultado dessa relação pode ser produzido em larga escala pela indústria, em pequena quantidade incorporando os processos industriais ou totalmente handmade. É a dialética entre o fazer e o pensar que divide a vanguarda da nova geração. Kaza apresenta a última leva de designers brasileiros, que chega com sede de produzir e de contestar os ritos habituais de passagem da sociedade.
Studio Haz
são paulo
O universo doméstico é o ponto de partida para os jovens arquitetos e designers Saulo Szabó e Fernando Oliveira, ambos com 28 anos. E não podia ser diferente, já que a palavra haz, em húngaro, quer dizer casa. Personalidade e funcionalidade traduzem bem a gama de produtos do estúdio inaugurado em 2010, que já ultrapassa o número de 80 diferentes peças concebidas. As mesas laterais Cubo Mágico, Luz e Mel, vão além da essência decorativa, fazendo bom uso da força dos desenhos retilíneos aliados aos seus conceitos originais. As luminárias de crochê Ponto – com fio de 6 metros – e a compacta mesa T – com tampo removível de laca fosca – estão entre os highlights do duo.
Colaborando entusiasticamente em diversos segmentos criativos, o ainda estudante de design de produto na Universidade de Caxias do Sul, Guilherme Wentz, 24 anos, já conta com um grande hit para a paulistana Decameron: a mesa Officer, totalmente artesanal. Sua solução para um objeto do cotidiano de qualquer trabalhador de escritório – engravatado ou não – é minuciosa e elegante. A beleza está justamente nos detalhes como o sistema de rolamento, que permite o deslocamento do tampo de madeira para abrir compartimentos internos na superfície. O contraste entre o tampo, pés torneados de carvalho e um elegante cabo de força vermelho, torna o móvel um objeto de desejo. Porta-copos, porta-canetas e pontos de energia também foram acoplados à peça. E para conferir sua entrada prematura – e já prolífica à indústria – é só conferir a linha de utilitários metálicos que ele desenha para a gaúcha Riva.
Formado pela FUMEC no final de 2010, o mineiro Caio Mendes, 25 anos, já está presente em grandes mostras. Foi vencedor do Prêmio Jovens Designers, que levou sua luminária Neuro ao Salão Satélite 2012 – espaço dedicado aos jovens talentos do Salão Internacional do Móvel de Milão. A peça é inspirada nos neurônios, formando uma síntese divertida que convida o usuário a criar e montar a sua própria rede, podendo servir também como divisor de ambientes. Sua mais nova criação é Milla, móvel versátil que permite diversas aplicações em ambientes internos. A peça, que pode ser mesa de canto e de centro, aparador e armário, remete tem shape levemente inspirado nos anos 1950.
A cooperativa de catadores Sonho de Liberdade, localizada na cidade satélite de Brasília Estrutural, é palco de uma grande ação promovida pelo trabalho de graduação de desenho industrial de Thiago Lucas da Silva, carioca da Rocinha que hoje vive no Distrito Federal. A linha Estrutural, batizada em homenagem ao local de produção deste trabalho, é composta por mesa de centro, mesa lateral, mesa de café, aparador e banquinho, tendo como matéria-prima os descartes de madeira que são transformados em móveis pelos próprios catadores, por meio do projeto de design ensinado e coordenado por Thiago. São peças rústicas, que levam as impressões digitais de cada profissional envolvido no projeto. Thiago atualmente trabalha no CDT/UnB (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília), prestando consultoria a grupos de economia solidária.
Filha de pai diplomata e mãe artista plástica, a brasiliense Nina Coimbra, 28 anos, dá nova chance à objetos descartados ou em desuso. Transformar algo que estava fadado ao lixo, com muito critério e atenção estética, é o que torna o seu trabalho tão autêntico: a traquitana rejeitada passa a ser um objeto de desejo, ficando irreconhecível em relação a sua forma inicial. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Nova York (FIT), foi em sua pós-graduação que Nina teve o primeiro contato com restauros e conservação de arte em obras originais da renascença. Em meio a isso, no final de 2011, criou sua marca de trabalho coceitual, a Dfeito.
Victor Leite, 22 anos, e Walter Gonçalves, 25, ambos paulistas formados em design de produto pela FAAP, integram o Studio Clami junto com Estevam Carvalhaes. Desde sua criação, em 2010, assinam peças 3 que são fruto de um processo misto de experiências e pesquisas variadas, o que resulta em insights baseados na observação em diversas áreas como o design gráfico, a arquitetura, as artes plásticas e a moda. A linha SP traz o rack Rush, móvel com estrutura e gavetas vermelhas e pés metálicos que parecem haver sofrido grande desgaste, alusão aos engavetamentos típicos da megalópole. A mesa de centro Estaiada revela o lado arquitetônico e monumental da cidade, tomando partido da estrutura de sustentação da nova ponte que passa sobre o rio Pinheiros.
A ideia de dar vida ao que é aprendido nas salas de aula do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo pelo trio Ricardo Bueno, 23 anos, Rafael Dias, 19, e Lucas Blat, 20, é a força motriz do Estúdio Cipó, criado em 2012. A identidade brasileira diz muito para o grupo, que acredita e investe na força nacional, utilizando como recurso um design atento e sensível aos detalhes poéticos do cotidiano. A poltrona Avante é o carro-chefe dessa união, uma peça simples de linguagem forte, criada e produzida manualmente durante as férias na própria oficina do centro universitário. O vibrante vermelho do couro de seu assento marca a união entre as retas anguladas de madeira, que formam parte da estrutura externa do móvel. Sua estética provoca, desafiando alguém a encará-la. O mesmo se aplica à mesa lateral Cardeal, que traz tons primários às estruturas metálicas da peça, que já se tornam assinaturas do grupo.