Maior centro de arte contemporânea a céu aberto do mundo, Inhotim não para de crescer. KAZA conversa com Bernardo Paz, faz um review dos principais projetos do instituto e antecipa, com exclusividade, a Grande Galeria e o hotel que logo irão brotar por lá.
Em setembro de 2012, Obama e Romney foram entrevistados no programa 60 minutes, da CBS, o maior e mais importante no gênero da tevê norte-americana. Agora em fevereiro será a vez do mineiro Bernardo Paz, mentor e fundador de Inhotim, dar seu recado. O polêmico humanitário e mecenas visionário de juba branca e fala franca colocou Brumadinho no mapa-múndi e o Brasil no cenário internacional das artes contemporâneas e da dignidade. No maior museu a céu aberto do planeta não é só nas artes que a contemporaneidade vibra, surpreende e encanta. Hoje, os 110 hectares ocupados, que começaram nos anos 1980 em menos de 10% da área atual na antiga fazenda de Paz, são um modelo de gestão em vários setores: botânica e meio ambiente, inclusão social, desenvolvimento sustentável e educação. “Inhotim é considerado pela imprensa internacional um dos grandes feitos dos últimos tempos”, afirma Paz com orgulho.
O enclave de arte e cidadania na Mata Atlântica mineira festeja dez anos de sucesso. “Em 2012, emplacamos 400 mil visitantes, cem mil a mais que em 2011. Vamos criar 1.600 leitos nos próximos anos. Não é só hotel de luxo que vamos ter. Teremos hotéis para as classes B e C, e albergue para estudantes. Tudo com bom gosto”, prevê o cabeça do complexo encravado em um terreno de dois mil hectares. “Vou transformar Inhotim em uma empresa nos moldes da Disney, dedicada à arte, educação e cidadania”, revela sobre a instituição sem fins lucrativos que hoje recebe não só a elite mundial, como também escolas de vários pontos do País e, refletindo nosso avanço social, visitantes de todas as classes. “Inhotim é democrático”, arremata o carismático Paz.
Setembro de 2012 viu aumentar para 25 o número de galerias espalhadas no parque. No grupo das galerias monográficas – aquelas que expõem a obra de um único artista – estão as dos brasileiros Cildo Meireles, Miguel Rio Branco, Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, Rivane Neuenschwander, Valeska Soares, Marilá Dardot e Adriana Varejão (ex-mulher de Paz) e as dos estrangeiros: Victor Grippo, Doris Salcedo, Matthew Barney, Doug Aitken e a do casal do som conceitual, Cardiff & Miller. Das três que inauguraram, o Pavilhão Psicoativo Tunga causou o maior auê ao abrir com uma performance de arromba com a participação de vários funcionários do instituto. O pernambucano Tunga está na raiz do projeto Inhotim, é amigo do peito de Bernardo desde os anos 1990. Agora suas obras como o videoinstalação Ão (1980), A Bela e a Fera (2001), Lézart (1989) e suas Terezas (as icônicas tranças de aço), entre outras, estão expostas em uma área de 2.200 metros quadrados, dividida em três andares, belo projeto do escritório e arquitetura Rizoma, de BH. Com brises soleils e nuances modernistas, o pavilhão entra para o Guinness como o maior espaço dedicado a um só artista.
Uma das mentoras do neoconstrutivismo, Lygia Pape (1927- 2004) também ganhou galeria projetada pelos craques do Rizoma. Da última fase da admirável trajetória da artista carioca, o espaço abriga uma obra única, Ttéia 1C (2002), impactante instalação com delicados fios metalizados dourados, que alude à teia urbana e teteia, coisa graciosa. Outra novidade é a galeria da espanhola Cristina Iglesias, Vegetation Room Inhotim, (2010-2012), um projeto site-specific (criado para o local em que é erguido). Em plena mata tropical uma ascética construção em placas de aço inox polido reflete o entorno luxuriante e guarda um segredo poético.
Inhotim é assim, surpreendente. Uma proposta alternativa do Brasil contemporâneo para o planeta. www.inhotim.org.br
