Nem toda inspiração está na superfície. KAZA pescou alguns dos principais artistas brasileiros que miram os ventos litorais, o quebrar das ondas e o fundo do mar para traçar projetos premiados que emergem na cena contemporânea com forte identidade nacional
Carlos Mota
A natureza é certamente o combustível mais expressivo nos traços do designer e surfista Carlos Motta. É através da madeira que ele expressa sua paixão e pelas brisas do verão. Prova disso são seus trabalhos premiados – da coleção Astúrias à Vitória – que têm como matéria prima as madeiras trazidas pelas águas do litoral paulista. Mas entre todas as obras que mais conversam com a poesia do oceano está a escrivaninha Ubatuba e a cadeira Rio. “Ter a cidade maravilhosa como inspiração, lembrar sua doçura, sua beleza e o cheiro da maresia foram as minhas matrizes para criar esta peça leve, atual e moderna”, conta Motta. Mobília com consciência ecológica, ergonomia, durabilidade e estética up-to-date. por Flávio Nogueira
A rede de descanso é um acessório doméstico que se confunde com a identidade brasileira e acompanha a história do nosso mobiliário desde sua origem mais remota. Apesar da existência ancestral em diversas partes do planeta, no Brasil ela é um legado legítimo dos índios. O desenho da poltrona Rede, do designer paulista Maurício Arruda, partiu desse interesse de perpetuação do acessório dentro das moradas brasileiras e da possibilidade de ampliar seu uso por meio de um novo suporte de design, na qual a rede é acrescentada sem nenhuma intervenção. A estrutura tubular prende o acessório de pano por meio de uma dobra central e encaixa as alças num único gancho arrematado por bola maciça de madeira, outro elemento recorrente no mobiliário brasuca moderno. por Flávio Nogueira
Os meninos do Rio Leonardo Lattavo e Pedro Moog transcrevem a malemolência e charme cariocas em peças lindas que abusam da tecnologia sem se desprender do charme artesanal e das inspirações orgânicas. A Fruteira Arraia, disponível em várias cores, é mais um exemplo da união criativa dos dois artistas. Os movimentos leves, soltos e fluídos do peixe são recortados eletronicamente em chapas de MDF vazadinhas, com a cara da estação e o frescor da maré. por Caroline Pereira
Zanini de Zanine
Zanininho é um dos mais modernos, descolados e inovadores designers de sua geração. Típico garoto de praia, surfista, bronzeado e tatuado, ele já coleciona muitos prêmios de design, como os do Salão Casa Design e do Museu da Casa Brasileira. Formado em Desenho Industrial pela Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RIO), já desenhou para marcas gringas como a Capellini e a Tolix. Aficcionado pela aura da estação mais quente do ano, Zanini faz uso da madeira que tanto influenciou a história de seu pai, o gênio José Zanine Caldas, associada aos materiais reciclados, como rodas de skate, sobras de pranchas de surf e grades antigas. Foi olhando para o mar que Zanini criou a poltrona Lena, de madeira crua ou laqueada fosca, vencedora do prêmio Movelsul 2012. por Flávio Nogueira
As esquinas da natureza brasileira são cautelosamente exploradas pela designer que iniciou a carreira na densa floresta amazônica. Ao observar o movimento natural das árvores veio também a inspiração que seria a principal matéria- prima de seu trabalho. Heloísa encontrou o mar graças a um projeto da ABERT e do Senai, entre 15 comunidades criadas no Brasil – 6 delas contam com o Estúdio Crocco. As pulseiras de conchas foram confeccionadas em Anchieta, na costa do Espírito Santo. “Os ares praianos, assim como as florestas, são o elo de ligação entre a técnica e a expressão”, comenta Heloísa. por Caroline Pereira
Formado pelos jovens designers Thaís Muniz, 25, e Tarcisio Almeida, 26, o Studio Hylé (lê-se ilé) é uma uma força criativa que colocou mais pimenta no design produzido pelas bandas da capital baiana. Pesquisar, mapear, identificar e conceituar são os verbos conjugados no cotidiano do duo, que flerta sem cerimônias com o universo da moda. Ao utilizar o design como linguagem para os projetos culturais e sustentáveis, o Hylé estabelece uma cadeia que envolve matérias-primas, resgate de técnicas tradicionais e oficinas em grupo cujo o intuito é agregar valor ao produto final. “Dentro deste conceito nasceu a linha Jereré, através da troca de experiências entre nós e uma comunidade de pescadores durante quatro meses”, explica Thaís. O olhar para a pesca artesanal é o mote da coleção com móveis artesanais que carregam redes tramadas pelos próprios pescadores, com corda ecológica de garrafa PET e marcenaria feita com as aparas de MDF. Sim, literalmente, o design subiu a ladeira do Pelô. por Ana Paula de Assis