Grafite com dendê

Grafite com dendê

Por Cynthia Garcia

Pousada baiana carrega nas paredes as marcas do dia em que o artista americano Keith Haring baixou em Itacaré a bordo de seus incríveis sprays voadores

Uma das pousadas mais curtidas da região de Itacaré, na Bahia, é a Casa Paraíso Verde, a começar pelo dono desse éden na foz do Ribeirão Sargi, o artista plástico Kenny Sharf. Um dos mentores da cena urbana nova-iorquina dos anos 1980, com Andy Warhol (1928-1987), Basquiat (1960-1988) e Keith Haring (1958-1990), o californiano de L.A. se apaixonou pela nativa Tereza, que o levou a comprar, em 1983, 160 acres à sombra dos coqueirais que ela tanto amava antes de migrar para o epicentro da fauna de Manhattan onde as loucuras do destino fizeram com que se conhecessem.

Quando o casal Sharf resolveu transformar seu bangalô em business, o conceito que norteou a empreitada foi: small is beautiful com todo o respeito pela Mãe Natureza. Nada de exageros, apenas mais quatro aposentos, abastecidos por energia solar, batizados com nomes regionais – Dendê, João de Barro, Rio Sargi, Coco da Bahia. “Afinal, estamos no Brasil, não em Bali”, arremata Kenny com seu português gringo e com a cantilena da terra que o encantou. O primeiro amigo a baixar por lá foi o legendário grafiteiro Keith Haring (1958 - 1990) – um dos mais expressivos nomes da arte urbana mundial, que ganhou notoriedade ao grafitar a giz as estações de metrô de Nova York –, companheiro de Kenny desde que eles eram apenas dois doidões cheios de sonhos e muitas latinhas de tinta spray. A estada ficou registrada nos anais da história da arte contemporânea e nas paredes da Casa Paraíso Verde, juntando-se às formas futuristas e bichos divertidos característicos do traço ágil de Kenny que pipocam na propriedade. “Ele achou tudo muito sem cor e resolveu fazer os golfinhos em sua primeira visita, em 1983. Depois vieram as pinturas no chão no final dos anos 1980”, lembra Tereza.

Para quem curte natureza sem frescura é o paraíso. Mas se você não consegue viver sem seu Louboutin, essa não é a sua tribo. “Isso aqui é um retiro para artistas, amigos e gente cool. Seria legal ter mais hóspedes, mas eles teriam que saber apreciar as dádivas dessa terra maravilhosa”, arremata ela.

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