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E o vento levou

E o vento levou


Por Flávio Nogueira

 

Arte, arquitetura, realidade, sonho e pitadas surreais marcam o trabalho de Laurent Chéhère, fotógrafo francês que leva as casinhas típicas da periferia de Paris às alturas – literalmente


A primeira vez que vi as obras do fotógrafo francês Laurent Chéhère flutuei na imaginação, assim como suas casinhas. Talvez tenha ido um pouco além, tamanha a poesia plástica das imagens. Se de início os pilares surrealistas saltam aos olhos, atrás de cada clique uma história quase antropológica se faz presente. Flying House saiu da cartola de Laurent em 2008, ano em que ele decidiu explorar as ruas de Beleville e Ménilmontant, num quadrilátero a nordeste de Paris. “Era como cruzar um mundo diferente”, diz. “Meu interesse é mostrar a vida dessas pessoas e de suas moradas, essa parte da cidade é muito pobre, e em cada metro quadrado é possível explorar uma rica diversidade cultural”.

 

 

Sensibilizado pelos problemas sociais dos que vivem ali, incluídas as dificuldades geográficas, Laurent botou os domicílios para voar como pipas, entre pássaros, fios da rede elétrica, roupas e tudo o que geralmente orbita ao redor. “Eu não posso mudar a história de nenhum deles, mas queria fazer alguma coisa, então, coloquei esses pequenos châteaux para decolar, alguns bem reais, outros misturando um pouco de sonho e fantasia”, conta ele se referindo à interferência do circo cigano com um anão vestido de Napoleão na neve.

 

 

Embora as imagens lembrem algumas animações de aroma mitológico como O Castelo Animado, dirigida pelo japonês Hayao Miyazaki ou Up – Altas Aventuras, da Pixar, foi o média-metragem O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse, filmado há exatos 57 anos, que influenciou o artista. Na película, gravada no mesmo bairro onde Laurent fez sua série, o menino Pascoal caminha pelas ruas de Ménilmontant e encontra um balão preso a um poste de iluminação. Ao ser desatada, a bexiga passa a seguir o garotinho por todos os lugares, como um amigo inseparável, acarretando o entusiasmo de todas as pessoas da região e a inveja das outras crianças. Com essa cartada em mente, Laurent começou a desenhar pequenos croquis de residências imaginárias. Ao andarilhar por aquelas vias, sempre encontrava algo parecido com o que havia traçado. Mas nada é tão simples. Na montagem, telhados, portas e janelas são clicados um a um, sempre com a mesma luz, depois ele as combina digitalmente. No final, lápis, papel, uma câmera fotográfica, um computador com Photoshop e zilhões de ideias são os ingredientes da coleção.

 

 

Se você, como eu, ficou impressionado com o que ele chama de “a Paris esquecida”, a galeria paulistana Lume Photos aterrissará com a compilação completa por aqui a partir de maio – não dá para deixar de conferir, sentir e flutuar.

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