Beleza Americana
Inspirado pelo filme A Single Man, de Tom Ford, Murilo Lomas recheia nosso Kontainer com um lounge que evoca a claridade – e a elegância – das casas modernistas americanas
POR ALLEX COLONTONIO / FOTOS ALEXANDRE PIRANI
Diante do espelho, enquanto enforca o nó da gravata, George diz: “Depois que me visto, sei exatamente o papel que devo desempenhar”. O personagem interpretado pelo ator inglês Colin Firth em A Single Man (por aqui traduzido como O Direito de Amar), filme dirigido por Tom Ford em 2009, logo na primeira cena denuncia a função quase óbvia da moda enquanto escudo comportamental, muito além de um mero indicativo de personalidade ou de status. Responsável por modernizar o império italiano Gucci, em sua única – e magistral – incursão no cinema, Ford abusou dos recortes domésticos apropriando-se de locações espetaculares como as casas modernistas de Los Angeles que traduziam o sonho americano nas décadas de 1950 e 1960: amplas, horizontais, com grandes planos de vidro que evocam o traço de Frank Lloyd Wright. Contrastando com o aço minimal e as transparências, a casa de Charlotte, interpretada por Julianne Moore, por exemplo, abordava o estilo Hollywood Regency que inspirou Murilo Lomas nessa versão tropical – sem folclores. “Basicamente, trabalhei com a atemporalidade. Pensei num ambiente que poderia ter sido projetado dez anos atrás ou daqui a dez anos”, conta. Um dos nomes mais badalados da nova geração de arquitetos de interiores, pupilo do mestre Sig Bergamin, mas com estilo reconhecidamente próprio, Lomas é adepto da mistura fina de épocas e estilos, gente e história. “Nesse caso, por exemplo, quis fazer algo moderno, mas sem a frieza das casas do futuro. Apostei nos tons claros, no uso moderado das linhas retas, no sofá supercontemporâneo contracenando com poltronas mais antigas, no móvel de madrepérola. E na paisagem da janela que surge quase como um quadro vivo. Um elogio às casas de vidro e ao modernismo”, diz sobre o recheio urbano que poderia também estar em uma casa de praia ou de campo, “sem modismos”.
A bordo de um summer assinado por Tom Ford, Murilo fala com propriedade. “Adoro o Ford e sua atemporalidade, não só nas roupas que desenha, mas em relação ao estilo de vida. O que ele desenha me parece eterno, ao contrário de outras tendências efêmeras da indústria fashion”, diz. Coisa de quem também sabe exatamente o papel que deve desempenhar.