O homem que queria tocar o céu
Um dos arquitetos mais incensados da atualidade, o uruguaio Rafael Viñoly acaba de tirar do papel o edifício mais alto do Hemisfério Norte
Por Allex Colontonio, de Nova York
Vizinho recém-chegado do emblemáticos Hotel Four Seasons, o empreendimento tem localização tão privilegiada que adotou as coordenadas como nome próprio, em letras garrafais. Brotando magistralmente do número 432 da Park Avenue, entre as ruas 56 e 57, a alguns passos do Central Park, o esguio monolito de aço, concreto e vidro arranha os céus como nenhum outro nas Américas e faz quase toda a malha nova-iorquina parecer um conglomerado de Legos, principalmente do topo de sua penthouse, no 96º andar (cujo elevador alcança em menos de 60 segundos, caso você se interesse). O espigão de 425 metros de altura tem assinatura portentosa: Rafael Viñoly, o arquiteto uruguaio radicado em NYC, que mantém filiais de seu estúdio em Londres, Los Angeles e Abu Dhabi, de onde ajuda a redesenhar a paisagem urbana em projetos que emergem pelo mundo inteiro, garantindo alguns prêmios na sua estante. “O desenho do 432 faz da simplicidade sua maior força, com uma estrutura clássica geométrica, quase primitiva, de efeito bastante leve, sem impacto, estrategicamente rasgado por aberturas que proporcionam uma experiência de 360º graus de Nova York”, contou o arquiteto à Kaza.
Um mirante e tanto, já que as janelas dos apartamentos têm exatos 3 x 3 metros e descortinam o Oceano Atlântico, os rios East e Hudson, o Central Park e edifícios icônicos quase tão altos quanto ele – como o Empire State Building, que só o alcança graças àquela antena vertiginosa onde o King Kong gostava de se pendurar. “A proporção extraordinária desafia a altura e rompe o limite dessa que é uma das cidades mais verticalizadas do mundo”, continua Viñoly. “Mas existem outras características muito expressivas, como o design dinâmico e atemporal, feito para durar sem ser uma alegoria futurista, além das diferentes orientações para aproveitamento máximo de luz solar e ventilação”, completa. Claro que o prédio que coloca Nova York literalmente aos seus pés não impressionaria só pela silhueta altiva e slim. O modelo decorado, que leva assinatura da classuda Deborah Berk, explora o pé-direito duplo (são 3,8 metros) e os acabamentos sofisticadíssimos, como o mármore italiano dos banheiros, o piso de carvalho maciço das áreas sociais, as cozinhas integradas e os closets – tudo no plural. “Nasci em NY e a minha relação com a cidade é uma eterna fonte de inspiração. Nesse projeto, as janelas do 432 trazem Manhattan praticamente para dentro. Pensamos num visual contemporâneo, mas sereno, para combinar com a calmaria do projeto arquitetônico”, conta Berk.
Para garantir que todos os moradores se sintam no topo do mundo, o primeiro apartamento só começa no 34º andar. Abaixo dele estão fatiados em diferentes pavimentos aquilo que os incorporadores humildemente chamam de “amenities”: jardins ao ar livre com pose de oásis, academias, espaço para jantares e eventos para quase 400 pessoas, spa com saunas, fitness center, salas de massagem; piscina de 22 metros, restaurante exclusivo, biblioteca, sala de jogos infantil e de adultos, cinema e outros et ceteras que não couberam nessas linhas e que eu nem sequer sabia que existiam até visitar as obras.
"O edifício foi projetado e discretamente comercializado para um público sofisticado, que espera que cada detalhe seja da melhor qualidade e cuidadosamente considerado", disse Harry Macklowe, fundador da Macklowe Properties – a mesma responsável pela construção do cubo de vidro da Apple Store que se tornou um dos cartões-postais preferidos de nerds dos quatro cantos do planeta. "Estamos muito satisfeitos com o enorme interesse dos nova-iorquinos e compradores americanos e internacionais", completa. Entre russos, árabes, chineses e sul-americanos, estão cinco brasileiros abonados que já arremataram unidades cujo valor varia de US$ 7 milhões a US$ 95 milhões. Definitivamente, o céu tem seu preço.
www.432parkavenue.com
