Se eu quiser falar com Deus

Tamanho do Texto A- A+

Com vapor sessentista, Antonio Ferreira Junior revê a casa brasileira nos cenários da peça Meu Deus, protagonizada por Irene Ravache e Dan Stulbach

Por Allex Colontonio | Fotos Alexandre Pirani

Uma dúzia de anos atrás, Marília Pêra estrelava por aqui a versão brasuca de Victor ou Victoria (aquela protagonizada por Julie Andrews no cinema e por Lisa Minnelli na Broadway). Eram tantas trocas de cenário quanto de figurinos – treze, ao todo! Cada uma dessas ambientações foi criada por Antonio Ferreira Junior, arquiteto que começava ali a dividir sua rotina entre os projetos arquitetônicos e os cenográficos. “Sempre tive uma relação muito forte com o teatro”, conta. Sobe o pano. No melhor estilo “a vida imita a arte”, ele hoje coleciona no currículo casas de divas de três gerações, que vão de Regina Duarte e Drica Moraes a Mariana Ximenes, além da boca de cena de algumas boas peças da dramaturgia. A última delas acaba de abrir as cortinas. Adaptação do israelense Anat Gov (1953-2012), Meu Deus estreia no teatro Faap, em São Paulo, encabeçada por Irene Ravache e Dan Stulbach, sob direção de Elias Andreato. A montagem tem cenário quase banal: a residência de uma psicóloga bem-nascida – e estafada –que recebe seus pacientes ali mesmo, no living. Entre eles, o todo-poderoso que dá nome à encenação, em carne e osso. “O briefing era uma casa com cara de casa e a inspiração foi a própria Irene. Fiz uma entrevista com ela para saber como usaria o espaço e acertei os detalhes de marcação técnica com o Andreato”, diz referindo-se à luminotécnica, modulagem e outras questões das coxias. Os objetos mergulham no personagem, cujo filho autista toca violoncelo e pinta quadros coloridos. A estante de livros simula um home office, e o living com a poltrona giratória é onde se desenvolve a maior parte dos diálogos. “Escolhi os móveis de acordo com a personalidade da Irene na peça e com o clima realista a partir da mistura de estilos, característica da minha marca, com destaque para a década de 60”. Simples, chic e sem dramas, como tudo o que Antonio faz.

Se eu quiser falar com Deus