Projetos

O entusiasta

De linhagem nobre e gosto idem, Thomaz Saavedra, um dos articuladores do design vintage em São Paulo, abre as portas de seu apê. Entre livros raros e design bem garimpado, ele mostra que fina estampa é coisa de dentro para fora

Por Cynthia Garcia | Fotos Romulo Fialdini

 

Atualmente, quando indagado qual a atividade professada, Thomaz Saavedra diz orgulhoso: “Sou um design enthusiast.” Esse jovem economista, amante do bom desenho, durante doze anos perambulou no mercado financeiro – do banco da família, o antigo Boavista, ao Icatu – antes de decidir não mais viver para o trabalho. Deu um passo que muitos adorariam dar mas não têm coragem, transformou em ganha-pão sua grande paixão: o hobby do colecionismo. O início do novo ciclo estreou com o cargo de representante em São Paulo do leiloeiro Sotheby’s de 2004 a 2007, seguido pela representação de outra grande casa internacional de leilões, a Bonhams. Em 2008, transferiu-se para a capital paulista ao inaugurar o Thomaz Saavedra Escritório de Arte em uma simpática casa no número 526 da Rua João Moura, em Pinheiros, que logo emplacou a wish list paulistana. O segundo passo, para espanto de alguns, foi a compra na Rua Augusta do apê onde escolheu morar. “Entrei na Rua Augusta a 120 por hora”, brinca. Situado na esquina da Lorena, no equivalente ao 4º andar, o apartamento de 100 metros quadrados, reformado para um quarto, dá para a Rua Haddock Lobo. Está resguardado do buchicho e ainda é abençoado por uma janela que assiste a um espetáculo raro para os paulistas e caro a um carioca como ele: o pôr do sol. Isso é que é sorte.

Ele não gosta mas, carioca que também sou, vou revelar um pouco do background do rapaz. Em São Paulo, poucos sabem que os Saavedra vêm de uma linhagem nobiliárquica portuguesa – o pai de nosso design enthusiast é o 5º barão de Saavedra. A família sempre prestigiou a cultura e esse legado é perpetuado por Thomaz no seu bom gosto e interesse principalmente pelo design vintage, por obras em papel e por edições raras de livros antigos. Nas paredes, entre os cartazes e cartazetes de sua coleção de artes gráficas, estão peças bem-humoradas como o pôster de divulgação do western americano, “The Pinto Kid” (1940), e “La Gatta in Calore” (1972), um filme erótico italiano, que se encontra três bien placé sobre a cabeceira de seu quarto. Na sala de jantar, dublê de biblioteca, estão as primeiras edições de algumas jóias da nossa literatura. Com capa na ortografia original encontra-se “Ideias de Géca Tatu” (1918), do grande Monteiro Lobato, que acabou preferindo criar para crianças: “De escrever para marmanjos já estou enjoado. Bichos sem graça”. Outra pérola é “Berço do Herói” (1965) de Dias Gomes. “É o livro que deu origem à novela ‘Roque Santeiro’. Tem prefácio de Paulo Francis, datado de novembro de 1964, e foi recolhido na ditadura, portanto, é uma edição rara”, diz Thomaz relembrando o período que manchou nosso Brasil, o que não impediu, vinte anos mais tarde, de assistirmos nas telinhas de nossos lares do Oiapoque ao Chuí aos divertidos “causos” do Cabo Roque, da viúva Porcina e do corrupto Sinhozinho Malta. Mundo vai, mundo vem, as coisas não são tão diferentes assim...

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